Segurando com força três carteiras de trabalho, a auxiliar de produção desempregada Rejane Nunes, 49 anos, de Alvorada, chorou ao ouvir a primeira fala do arcebispo emérito Dom Dadeus Grings durante a missa campal da 63ª edição da festa em honra à Nossa Senhora do Trabalho, na Vila Ipiranga, na Zona Norte de Porto Alegre, na manhã desta segunda-feira. Demitida no mês passado, Rejane, assim como outros fiéis presentes, pediu uma ajuda divina para encontrar um novo emprego.
– Está muito difícil conseguir me reposicionar no mercado porque há muitas pessoas enfrentando a mesma situação. Trouxe também a carteira do meu irmão, que está há quatro anos sem um emprego fixo como construtor civil – contou.
Rejane e o irmão fazem parte dos 14,2 milhões de desempregados do País, segundo a pesquisa Pnad Contínua, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior taxa de desocupação da série histórica, iniciada em 2012. Durante a homilia da missa campal, Dom Dadeus abordou a questão e pediu orações a quem procura um novo emprego.
Preces que enchem a assistente social Maria Regina da Silva, 51 anos, de esperança. Demitida há dois anos depois de três décadas atuando numa mesma empresa, ela vem atuando como artesã enquanto procura uma nova oportunidade na profissão.
– Sou devota da santa e participei da novena. Hoje, trouxe a carteira acreditando que ela me ajudará a encontrar um novo emprego – disse.
Bênção
Apesar do feriadão, centenas participaram da procissão de Nossa Senhora do Trabalho pelas ruas do Jardim Itu e da Vila Ipiranga, culminando na missa e, em seguida, almoço festivo. Organizado pela própria comunidade, o evento faz parte do calendário oficial da Capital e se tornou uma das festas religiosas mais tradicionais do Estado, atraindo fieis de diferentes cidades.
Foi o caso da enfermeira aposentada Maria Ione da Silva, 73 anos, que saiu de Sapucaia do Sul, no Vale do Sinos, por volta das 7h para participar da homenagem. Usando um chapéu de Nossa Senhora dos Navegantes, da qual também é devota, Maria Ione carregava dois quadros de Nossa Senhora dos Trabalho para serem abençoados durante a missa.
– Darei estas imagens de presentes para dois sobrinhos que estão desempregados – justificou.
Ao final da missa, Dom Dadeus convidou a todos para a bênção das carteiras de trabalho. Neste momento, centenas foram erguidas em meio à multidão. Mas houve quem usou os crachás do emprego e as chaves da casa para também receberem as preces.
A história de Nossa Senhora do Trabalho
A primeira festa em honra à Nossa Senhora do Trabalho foi realizada no dia 1º de maio de 1901, na Itália. A imagem da mãe abençoando um agricultor e um carpinteiro foi idealizada por São Luís Guanella, fundador da Congregação das Filhas de Santa Maria da Providência e dos Servos da Caridade e principal propagador da devoção a Nossa Senhora do Trabalho.