A Praça das Flores, no Jardim Lindoia, recebe há anos os cuidados das mãos dedicadas de George Karpoousa, de 88 anos. Natural da Grécia, George aposentou-se do ofício de metalúrgico e, desde então, se dedica ao plantio de mudas de árvores frutíferas e medicinais no bairro. Foram 94 mudas plantadas desde 2015 na praça, além de outras nos canteiros da rua.
Na noite de 28 de fevereiro, 50 dessas mudas deram lugar a covas vazias. As plantas, antes protegidas, viraram restos de folhas, galhos, garrafas e cabos quebrados. Algumas mudas, com raízes mais finas, foram arrancadas completamente.
– O que eles não conseguiram arrancar foi quebrado. Mas essas aqui, mais fortes, vão crescer novamente – acredita George, cujo amor ao verde foi retratado por ZH em 2014.
Dias depois do ataque, na manhã desta sexta-feira, ainda houve quem se surpreendesse com a falta das mudas. Enquanto George e seu genro conversavam com ZH, uma mulher parou o carro e puxou conversa:
– O que houve?
Diante da explicação, ofereceu ajuda para repor o verde perdido. Outros vizinhos se juntaram ao coro de "que pena" ao ver que pouco tinha sobrado das mudas – cada uma, escorada com cabos de vassoura e protegida em garrafas de plástico.
Algumas plantas, com raízes mais profundas, sobreviveram. Mostram o trabalho de George, que mora a alguns passos da praça e viu na segurança das largas copas dos ipês, eucaliptos e coqueiros, já antigos no local, a oportunidade de expandir a flora da área.
Medo da violência teria motivado "atentado"
Ele e um vizinho, João Pedro, suspeitam que outros moradores das redondezas foram responsáveis pelo ato de vandalismo. Para George, que pescou a hipótese em conversas pelo bairro, temem que, no futuro, árvores maiores sirvam para esconder ladrões. ZH conversou com vizinhos da praça, mas mas ninguém apontou culpados para o extermínio das mudas.
– É um absurdo sem fundamento, uma coisa que a gente não pode admitir. Eu penso em fazer uma placa e fixar na frente dos prédios, na volta da praça, lamentando alguém ter feito uma barbaridade dessas. São apenas plantas que seu George cuida de graça – lastima João Pedro.
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Algumas dessas árvores ainda eram pequenas, outras já haviam dado até frutos. Caso das figueiras, que George importou na bagagem depois de viagens à sua terra natal. Apesar da decepção de ver as plantas que cultiva em sua própria casa destruídas, ele persiste na ideia de deixar a praça, que seus filhos e netos frequentam, cheia de árvores bonitas, com flores e frutos. Quer plantar suas mudas em outros pontos da praça, longe dos olhos de quem não as vê bem.
– Eu quero continuar, mas depois disso eu vou plantar somente nos outros lados da praça, onde tem menos gente. Eu tenho quase 90 anos e estou fazendo amigos, não faço inimigos. Fiquei um pouco triste, mas deixa, o que vamos fazer? São as ideias de cada um. Não quero briga, não quero nada. Fiquei um pouco triste, mas passa.