Do Lami ao Rubem Berta, da Cidade Baixa ao Petrópolis, há mais de 20 grupos e comunidades que unem vizinhos por meio do Facebook em Porto Alegre. Utilizados para compartilhar notícias, divulgar produtos, procurar animais de estimação perdidos, pedir e dar dicas, alguns reúnem ainda mais seguidores do que os Vizinhos do Centro Histórico – tema de reportagem de Zero Hora na última semana pelo espírito de cooperação e tretas pitorescas. O grupo fechado "Bom Jesus: o que está ocorrendo?" tem mais de 28 mil membros, enquanto o "Amigos da Lomba do Pinheiro", focado em compra e venda, ultrapassa a marca de 44 mil.
Carolina Lisboa, psicóloga e professora da PUCRS, vê lados negativos e positivos nesse tipo de relacionamento. Ela ressalta que, embora ágil e sedutora, a interação virtual não deve substituir as interações sociais diretas. Mas também acredita que ela pode ser saudável ao criar uma rede de apoio.
O pesquisador de mídias sociais e professor de Comunicação da UFRGS, Alex Primo, vê nas redes sociais a reaproximação dos vizinhos "depois de um longo período de distanciamento nos condomínios e grandes cidades".
– Com a vida agitada das cidades e a violência urbana, as pessoas acabam se isolando, acabam tendo medo umas das outras. Por outro lado, a internet parece oferecer uma série de proteções. Você se sente à vontade para falar com um vizinho no WhatsApp e no Tinder porque pode bloquear aquela pessoa – explica.
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Ele ressalta que as opiniões e interesses em comum podem aproximar esses vizinhos, com encontros presenciais ou não.
– Tu consegues ter uma discussão mais ampliada, ainda que seja no nível do bairro. Todas as pessoas que ali moram têm a preocupação sobre seu ambiente mais próximo, sobre a segurança, os buracos na rua, os animais. É o exercício de uma postura política que tem repercussão direta na convivência das pessoas.
Estreitar um laço comunitário desgastado pelo enclausuramento das pessoas é justamente a vantagem que o representante comercial Ricardo Eckert, 54 anos, vê nessas comunidades. Ele não integra apenas o grupo do bairro Tristeza, onde mora, mas também comunidades do Ponta Grossa, Menino Deus, Nonoai, Cidade Baixa, Moinhos de Vento e Centro, e costuma compartilhar curiosidades históricas de cada localidade. Ele também criou um grupo focado no Teresópolis, onde nasceu e cresceu, com o objetivo de mostrar o lado positivo do bairro, frente às notícias de assaltos e violência.
– Acredito que os grupos são importantes para que a vida comunitária seja valorizada por cada morador – diz.