Estagnada desde a gestão anterior, a implantação de estacionamentos subterrâneos na região central de Porto Alegre tem corrido solta em discursos de Nelson Marchezan desde que foi eleito. Mas, até o momento, o entusiasmo do prefeito em materializar novas vagas no trânsito da Capital se restringe ao campo das ideias.
Não há projeto ou estudo da nova administração para a alternativa, que já se mostrou mais complexa do que podiam prever os vereadores à época em que a construção de garagens subterrâneas no Centro foi aprovada, em 2011. Dos três pontos sondados para receber vagas no subsolo até 2015, dois foram descartados por não serem viáveis economicamente: um deles sob o Parque Ramiro Souto, na Redenção, e outro sob a Praça Parobé, no Centro.
O único estudo que se mostrou viável é o de uma construção sob o Largo Glênio Peres, ao lado do Mercado Público – a reportagem solicitou detalhes do documento, mas não teve o acesso liberado pelos técnicos da gestão Fortunati nem pela pasta que deve incorporar o Gabinete de Desenvolvimento de Assuntos Especiais (Gades), responsável pelo assunto. Em processo de nomeação, o futuro secretário de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, disse que não é possível afirmar se o estudo existente será aproveitado pelo novo governo como base para que um primeiro estacionamento subterrâneo no Centro saia do papel.
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– A nossa missão inicial, passada pelo prefeito, é diagnosticar a necessidade de serviços junto a secretarias. Se houver necessidade de mais vagas, com certeza faremos estudos, pensando na demanda de longo prazo. Temos de analisar o grau de profundidade desse estudo para avaliar o alinhamento deles com o que se pensa para o futuro da cidade – disse.
Segundo um integrante da administração anterior, o estudo já concluído prevê uma garagem de dois pavimentos, com cerca de 300 vagas, a 10 metros de profundidade. A obra sob o Largo Glênio Peres seria feita em regime de concessão, permitindo que a empresa vencedora da licitação desfrutasse do local por um tempo predeterminado.
Procurado pela reportagem para comentar o assunto, o prefeito Nelson Marchezan informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que tem a intenção de "fazer o máximo de estacionamentos e incentivá-los, sejam eles subterrâneos ou não". Em Porto Alegre, as vagas de estacionamentos públicos somavam 4.142 até o fim de 2015, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Conforme a EPTC, o número diminuiu nos últimos anos devido à implantação de novas ciclovias.
Especialistas divergem sobre aumento de vagas
Se o atual prefeito vê com bons olhos a multiplicação de vagas de estacionamento na cidade, para especialistas em trânsito, o assunto é mais controverso. Ao mesmo tempo que opções como as garagens subterrâneas na região central podem melhorar o acesso e até mesmo o fluxo de pedestres em locais onde hoje param veículos, facilitar a vida de quem usa o transporte individual pode ser um tiro no pé de uma sociedade mais sustentável.
– Todas as grandes capitais com projeto de urbanização procuram o alívio do trânsito na zona central. Isso se faz por meio do transporte público, do incentivo de atividades em outras regiões da cidade. Nosso centro é esmagado contra um rio. Precisa de incentivo para que se estenda para os lados do Beira-Rio e do Quarto Distrito – avalia o consultor de trânsito Walter Kauffmann Neto.
Para o especialista, embora a proposta de um estacionamento subterrâneo seja interessante, geraria pouco impacto para o custo que costumam demandar obras assim. O doutor em trânsito e professor da UFRGS João Albano concorda que a construção, sobretudo pela proximidade com o Guaíba, deve custar caro. Acredita, por outro lado, que tende a trazer resultados positivos para a cidade.
– Acho que é uma alternativa importante, porque nosso espaço físico já está exaurido. Facilitaria o acesso ao centro. Mas é uma construção cara, porque ali o lençol freático está relativamente próximo da superfície. Talvez isso possa inibir investidores – pondera.
Segundo Albano, cidades como Lisboa e Buenos Aires tiveram experiências bem-sucedidas com garagens subterrâneas. No Brasil, capitais como Rio de Janeiro e São Paulo também possuem alternativas, além da própria capital gaúcha, onde há um estacionamento subterrâneo para os visitantes da Fundação Iberê Camargo.