Por seis meses, ZH investigou como o DEP fiscaliza os serviços prestados por empresas que deveriam manter limpos os equipamentos de drenagem em Porto Alegre. Sem controle, os serviços são mal feitos e superfaturados, com prejuízos aos cofres públicos e reflexos para a população, que sofre com alagamentos decorrentes de temporais.
Na segunda-feira, quando a reportagem foi publicada e divulgada na Rádio Gaúcha, moradores de Porto Alegre enviaram relatos sobre o entupimento de bueiros e os alagamentos decorrentes da falta de limpeza. Zero Hora entrou em contato com as pessoas que reclamaram sobre o serviço que, muitas vezes, sequer é prestado pelo DEP.
Leia mais:
Fortunati determina sindicância no DEP para apurar suspeita de irregularidades
Direção do DEP pede afastamento após denúncias de irregularidades
Sem fiscalização do DEP, limpeza terceirizada é superfaturada na Capital
Com a rua alagada, o jeito é pegar um ônibus
Um dos tradicionais pontos de alagamento na Capital, o bairro Humaitá fica intransitável quando chove. Por não ter escolha, o assistente administrativo Marco Antônio Barbosa, morador da região, precisa pagar passagem e pegar um ônibus para atravessar apenas três paradas para sair e chegar em casa. Isso porque o trajeto, que usualmente faz a pé, fica completamente alagado.
– Há quatros anos que moro por ali e sempre foi assim. Com a Arena do Grêmio, não melhorou nada. Até os carros vão na contramão porque apagam nos alagamentos – afirma Marco Antônio.
Os porto-alegrenses que dependem do transporte público são os mais atingidos, principalmente quando descem ou sobem dos ônibus na região do bairro Humaitá.
– No fim da linha, por exemplo, os motoristas têm de subir a calçada para deixar as pessoas por causa dos alagamentos. Acho que o problema são os bueiros entupidos, porque ali não tem por onde a água escorrer.
R$ 100 para ter um serviço público
Cansado de esperar pelo poder público, o lojista Joel Ribeiro, ex-morador da Rua Oscar Pereira, na Zona Sul, diz ter tirado R$ 100 do próprio bolso para custear a limpeza de bueiro que ficava em frente a sua casa. O caso ocorreu há dois anos.
– Um caminhão chegou para fazer a limpeza, os rapazes desceram e disseram que aquele tipo de bueiro eles não poderiam limpar e que não fariam a limpeza porque a prefeitura não estava pagando pelo serviço. Aí eles propuseram: "tem como nos dar um por fora?" – relata Joel.
O lojista já não mora mais na região, mas diz que a cada chuva a calçada e a rua ficavam alagadas:
– Ia sair muito mais caro para eu deixar daquele jeito. A cada chuva eu molhava tênis, roupa. Não dava pra continuar.
Jamais houve limpeza, diz morador
O segurança Francisco Brochado Jr. mora há 45 anos na Rua Dr. Voltaire Pires, no bairro Santo Antônio, e diz jamais ter observado qualquer limpeza dos bueiros da região. Não há alagamentos no local porque a residência fica em um declive.
– Tem um bueiro ao lado da minha casa. Ali, não entra a água, ela escoa pelo canto da rua e aqui só não alaga porque fica no meio de uma lomba – afirma Francisco. – A água não entra no bueiro porque, com certeza, está todo entupido.
Veja a investigação completa:
Obra não resolveu os alagamentos, afirma empresário
Na avenida São Pedro, na Zona Norte, uma obra de microdrenagem não resolveu os problemas de alagamentos, afirma o microempresário Marcos Bittencourt, morador da região há 10 anos. Ele afirma que nunca presenciou limpeza de bueiro no local:
– A única limpeza que eu vi foi a obra faraônica que fizeram ali. Era para tratar a enchente, só que não resolveu, sempre há alagamentos.
Marcos diz que já pediu providências ao DEP, mas as tentativas foram em vão.
– Faz um tempo que pedi. A vizinha aqui do lado liga mais, mas, mesmo assim, eles nunca vieram – conclui.
Prejuízo de R$ 20 mil
Nos últimos dois anos, devido ao entupimento de bueiros, uma empresa na Rua Conselheiro Camargo, no bairro São Geraldo, ficou completamente alagada em duas ocasiões. Depois de perder R$ 10 mil com cada enchente, o dono do estabelecimento, Edson Lemos, diz ter acionado a prefeitura para a limpeza das bocas de lobo, mas a tentativa não deu certo.
– Chamei o DEP para me precaver e abri um protocolo para limpar os bueiros da rua. Eles não vieram. Alguns dias depois, liguei de novo, e o atendimento estava como encerrado. Aí eu perguntei: "como encerraram se nem vieram aqui? Quer dizer que estão mentindo pra vocês que fizeram e não fizeram?" – relembra o empresário.
Edson acumula pelo menos quatro números de protocolos sem atendimento, sem contar o número de pedidos feitos pelos vizinhos.
– Deviam limpar os bueiros de toda a rua. Se olhar dentro deles, tem areia até em cima – avisa.