No segundo andar de um prédio usado como estacionamento no bairro Jardim Botânico, o aposentado Telmo Flores de Siqueira, 75 anos, guarda seu trabalho de três décadas: o protótipo ainda não finalizado do projeto Cabra. Ironicamente, o Cabra em nada tem a ver com o animal de chifres e barba – na verdade, seria mais justo se o nome lembrasse um sapo. Mas foi no que deu a sigla de Carro Anfíbio Brasileiro.
– É um sonho antigo, do tempo da juventude. Tive a ideia de fazer um veículo que pudesse ser usado não apenas nas rodovias, que estão sucateadas, mas nesse manancial hídrico maravilhoso que temos no Rio Grande do Sul – explica seu Telmo.
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Com exceção dos trabalhos de torno, o aposentado, que tem formação em engenharia agrônoma, construiu o veículo/embarcação: desenhou, fez a carroceria com fibras de vidro e carbono, trabalhou na parte mecânica. Nesta semana, chegou a carta da patente do "carro anfíbio multitração e multiversões", que havia solicitado em 2013.
Com o ambicioso objetivo de ver sua invenção produzida em escala industrial, explica que o seu carro será tracionado por rodas, hélice aérea, conjunto de hélice e rodas, vela e a remo também – que servirá até como musculação, acrescenta o senhorzinho carismático que chama de "esmartphone" seu modelo antigo de celular pintado de esmalte na ponta. E ele ainda pretende instalar asa de kitesurf no anfíbio.
Antes deste protótipo, Telmo já havia criado e testado um modelo mais simples, usando uma construção de tubos metálicos para representar o carro. Testou ele com sucesso no Guaíba e também no Rio Caí, em sua cidade natal, Montenegro. Conta que teve de desmontá-lo quando um motorista bêbado destruiu a traseira do veículo. Logo após, em 1985, iniciou o projeto em que trabalha até hoje.
É difícil até de calcular quanto dinheiro já investiu.
– O projeto já passou por tantas moedas – diz bem-humorado, citando cruzeiros antigos, cruzados e cruzados novos.
Telmo diz que já tentou se reunir com vários governadores e secretários para buscar patrocínio e nunca foi atendido. Para terminar a obra, ele calcula que necessita de mais R$ 50 mil, verba da qual não dispõe.
Ainda falta bastante coisa para que possa sair com o carro pelas ruas e pela água, como a compra do motor e das caixas de câmbio (que foram furtados) e o reforço da estrutura em fibra de carbono. Telmo também sabe que precisará das autorizações do Detran e da Marinha. Mas é otimista: diz que, se conseguir patrocínio, no ano que vem, realiza seu sonho.
– Eu estou fazendo 76 anos no dia 25 . Antes de completar os 77, tenho que estar com ele pronto: rodando e navegando.
*Colaborou Bárbara Müller