Se você andou em um carro Mercedes prata do Uber com um motorista de cabelos grisalhos e prosa envolvente, é possível que tenha colaborado sem saber para uma pesquisa acadêmica.
O condutor em questão é o professor de pós-graduação da Uniritter Marcelo Godoy, 45 anos, que decidiu dirigir pelo Uber em Porto Alegre para estudar economia do compartilhamento.
A ideia da "aventura", como se refere Godoy à imersão, surgiu enquanto dava aula a uma turma de Pesquisa de Mercado, em dezembro do ano passado. Logo reuniu os documentos necessários, fez as alterações pertinentes na carteira de motorista e no seguro do seu carro e saiu dirigindo pela Capital – estima que já fez cerca de mil viagens desde então. O objetivo é conhecer melhor a área e escrever um artigo para publicação na revista da Uniritter Laureate.
– E ainda por cima estou ganhando dinheiro. Nada mau – acrescenta, bem-humorado.
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Godoy não esconde a fascinação pela tendência disruptiva de modelos de negócio como o Uber. Explica que a economia do compartilhamento – que leva esse nome porque alguém compartilha algo que é seu – aproxima demanda e oferta, minimizando a burocracia e tornando produto ou serviço mais barato.
Também destaca que um dos principais pilares deste modelo é a avaliação feita por prestador e por contratante. Lembra que da mesma forma que o Uber descredencia motoristas mal-avaliados, o condutor pode não aceitar o cliente que tiver nota baixa (o motorista também avalia quem ele transporta).
– A economia do compartilhamento, por meio de avaliações bilaterais, ou multilaterais, prova que não precisa ter o Estado como validador de qualidade. As pessoas se autoavaliam, o que vai regulando o mercado. Os maus, de ambos os lados, vão sendo tirados da plataforma, e isso leva a uma mudança de comportamento – opina.
Na "pesquisa de campo", o professor conversa com usuários e motoristas para entender suas motivações. Avaliou, até então, que para mulheres o principal fator para pedir um Uber é a segurança, enquanto homens o fazem primeiro por qualidade e preço. Também destaca a quantidade de profissionais de vários segmentos que, afetados pela crise em muitos casos, tornaram-se motoristas de Uber para agregar renda – cita ter conhecido professores, corretores, bancários, funcionários públicos, estudantes e até policiais na função.
O Uber não quis comentar o assunto.