Para homenagear o pai, o pescador Julio de Oliveira, 55 anos, do Bairro Belém Novo, em Porto Alegre, criou um projeto que há dez anos contribui para a sustentabilidade do Guaíba e das margens dele.
Julio, conhecido como Bagre, o batizou de Pitucanoa: Pituca foi o pai dele - morto há 17 anos. Canoa porque ele foi pescador no Guaíba por sete décadas.
Bagre ensina as crianças da região como plantar mudas de árvores nativas, fazer redes de pesca e navegar pelo Guaíba. Segundo ele, as crianças são o futuro deste planeta. Com o projeto, mais de 14 mil mudas de árvores nativas foram resgatadas das margens alagadiças e replantadas em outras áreas da região.
As árvores, plantadas em potes de plástico e até tênis recolhidos do próprio Guaíba, que geraram novas mudas - como sarandi, ingazeiro e amarilho - se tornam artesanato nas mãos dele, que repassa a técnica aos pequenos.
Hoje, o problema do Pitucanoa é a falta de parcerias para o projeto. Falta ajuda para o lanche e o transporte das crianças.
Apesar da falta de patrocínio para a continuidade da ação, Bagre não desiste: a paixão pelo Guaíba e pela função que exerce o motivam a continuar levando adiante a consciência ambiental e o amor à natureza.
Nascimento
"Criamos o projeto para mostrar ao planeta que as coisas que estão erradas a gente tem como consertar. Que o meu pai, um defensor da natureza, não conseguiu reverter anos atrás: manter o ser humano e, principalmente, o pescador, em sintonia com a natureza."
Mudas
"Salvamos as mudas nativas que brotam na orla do Guaíba no início de novembro, durante a piracema, e que se não forem replantadas em lugares mais altos, poderão ser levadas pelas enchentes. Identificamos e classificamos as mudas, que são plantadas em potes de plásticos e, até, tênis, recolhidos por nós do próprio Guaíba. Há mais de 14 mil mudas replantadas por nós e espalhadas por aí."
Diferença
"Elas crescem e dão frutos que alimentam os passarinhos e os bugios da região. Há cinco anos, quando algumas árvores já tinham florido, começamos a produzir artesanato delas, como as canoinhas feitas de corticeira. Há peças espalhadas pela Europa e até na China. Esta renda do artesanato tirado daquilo que foi replantado era a minha proposta inicial aos pescadores, há uma década. Hoje, ela poderia fazer a diferença para eles no período da piracema."
Criança
"Propus a atividade para os adultos, mas não deu certo. Comecei a ensinar as crianças. Elas brilham o olho quando ouvem que vão plantar uma árvore, aprender a montar e consertar uma rede, pescar um peixe e tirar um filé de um já passou do período da desova, que vão fazer trabalhos manuais e que, com isso, podem ajudar na sustentabilidade do planeta."
Privilégio
"Me sinto um privilegiado, um diferenciado por ter a oportunidade de passar adiante os conhecimentos adquiridos com o meu pai e meu avô. Hoje em dia, as pessoas não pensam mais em passar uma mensagem boa adiante, ajudar alguém que precisa daquela informação. Eu estou fazendo a minha parte."
Rumo
"Aqui, as crianças aprendem a sobreviver respeitando a vida. Além de elas aprenderem a plantar e pescar, elas aprendem a velejar, a remar e a navegar. Velejando você está aprendendo a traçar um rumo na vida. E se aprendeu a traçar um rumo na vida, vai se transformar num cidadão."
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