Entre a década de 1960 e o começo dos anos 2000, o uruguaio Milton Hernandez Burci, de 73 anos, colaborou para deixar mais doces os passeios pela Redenção, onde vendia os churros que aprendeu a fazer aos oito anos, em Montevidéu. Além de garantir a criação dos seus três filhos, a especiaria ficou marcada na memória de muitos porto-alegrenses.
- Eu lembro deles. Eram muito bons os churros, mas não os vi mais aqui. Gostaria de saber onde estão - diz o funcionário público Marcos Vinícius Azeredo, 47 anos, enquanto caminhava no parque.
O uruguaio se aposentou em 2005, quando foi proibido de vender produto em um trailer. Então guardou em casa - especificamente dentro do guarda-roupas - a máquina que ele mesmo construiu, com peças garimpadas no ferro velho. Resgatou a relíquia e a instalou no apartamento do filho, no bairro São João, para receber a repórter do Pelas Ruas na tarde desta terça-feira.
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Milton foi um dos pioneiros na venda de churros no Estado - no seu Uruguai, fazer churros em casa era tão comum quanto preparar um sanduíche. Mas ele garante que no começo dos anos 1960, quando chegou a Porto Alegre, ninguém conhecia a iguaria por aqui.
- Quando começamos, as pessoas tinham receio, não sabiam o que era e não queriam nem experimentar - relata, acrescentando que aceitação ao novo produto foi mais rápida em Tramandaí, para onde migrava em alta temporada.
Morando e trabalhando com os tios e um primo dentro de um caminhão, começou a vender churros na Praça XV e na Praça da Alfândega. Em 1963, descobriram a Redenção. Mais tarde, casou-se com Blanca, que passou a colaborar nos negócios, e ainda convocaria os filhos para ajudar na labuta.
- Vendíamos quase mil churros por dia - conta. - Vinha gente de muito longe pra comprar churros. Podia chover, podia cair pedra, e trabalhávamos com a ajuda de um guarda-sol - lembra.
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Trabalhar nunca foi difícil para Milton. Ele garante que, quando se faz o que gosta, nem cansa: o dia de trabalho se transforma em prazer. Difícil mesmo foi parar.
- De vez em quando ainda sonho que estou fazendo churros.
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Além de amor, Milton revela que o segredo do seu churro é a espessura da massa: ela é mais fininha, o que deixa o doce mais crocante e sequinho e dá lugar a mais recheio.
Se tudo der certo, os moradores poderão voltar a apreciar a iguaria a partir de 2016. Ricardo Hernandez já está procurando um local, ou na Zona Sul, ou entre a Cidade Baixa e o Bom Fim, para abrir um café que terá como especialidade a receita do pai.
- E vai ter o mesmo nome que sempre teve, Churros del Uruguay - adianta.
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Jéssica Rebeca Weber
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