Cansados de atolarem os pés na terra vermelha do Beco Recanto do Chimarrão, localizado na vila de mesmo nome, na Zona Norte de Porto Alegre, moradores decidiram dar fim à lama e à poeira. Unidos, 90 dos 93 vizinhos arrecadaram dinheiro para espalhar brita número 02 (a mais graúda) ao longo dos 600m da via, a única da localidade.
Uma das idealizadoras da ação conjunta, a operadora de caixa Vanda Costa Martins, 48 anos, conta que a ideia surgiu no final de maio, quando a chuva impossibilitava mais uma vez os moradores de circularem pelo beco sem atolar.
- Pensamos em fazer algo sem pedir ao poder público. Como não temos saneamento básico, não podíamos pavimentar. Nos restou espalhar a brita, que ajudaria a acabar com o barro e não prejudicaria o escoamento da água - conta Vanda.
De porta em porta, ela e outros vizinhos, entre eles, o pedreiro Orvandino de Bittencourt, 59 anos, pediram a contribuição de R$ 50 para cada uma das famílias da via. Inexperientes, se esqueceram de orçar os gastos com o material.
Comemoração
Apesar dos R$ 4,5 mil arrecadados, a brita custou o dobro do arrecadado - tudo comprovado em notas. Cada metro cúbico do material custa R$ 60. Orvandino, sozinho, conta ter desembolsado mais R$ 1,7 mil.
- Só pensava que nunca mais ficaria com os meus chinelos atolados no barro. Valeu a pena! Posso caminhar sem sujar os chinelos nem as roupas - diz, satisfeito, o pedreiro.
No sábado passado, os últimos metros de brita foram espalhados. A alegria foi geral. Teve até faixa para marcar o fim do barro.
- Em um mês, fizemos mais do que três mandatos da associação de moradores. Só foi preciso união - resume Orvandino.
Para Vanda, apesar do prejuízo financeiro, fica o exemplo para novas ações:
- É muito confortável ficar sentado esperando e reclamando. Esperamos 30 anos pela regularização deste lugar, mas nunca veio. Se a gente não se ajuda, ninguém faz por nós.
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Os vizinhos estão faceiros com o fim do barro
Foto: Mateus Bruxel