Apesar de pesquisa divulgada no início da semana pelo Instituto Datafolha mostrar que 87% dos brasileiros apoiam a proposta de redução da maioridade penal, quem circula pelas redes sociais pode ter uma impressão diferente.
Estudo realizado pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) mostra que, no Facebook, 70% das páginas, grupos e eventos públicos criados para debater a proposta são contrários à diminuição para 16 anos. No Twitter, o monitoramento feito entre 20 de março e 20 de junho, com base em 148 mil tweets e 48.707 retweets, também indicou mais não do que sim ao projeto.
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No monitoramento realizado no Twitter, o alto volume de discussões sobre o assunto surpreendeu. Mas o que mais chamou atenção do professor Fábio Malini, coordenador do Labic, foi o alto índice de politização do debate. Quando analisou o conteúdo das mensagens compartilhadas, reparou que frequentemente a redução da maioridade penal vinha acompanhada de discussões políticas, ao lado de hashtags inusitadas como #prendamLula.
- A discussão sobre a maioridade penal está extremamente contaminada pela discussão política, é um teatro do absurdo. Se vê que é um debate oportunista, no meio de uma disputa política - opina Malini.
A cartografia das interações observadas serviu de base para a confecção de dois mapas ilustrativos da discussão nas redes. O primeiro, do Facebook, mostra que quatro páginas concentram o maior volume de interações: Amanhecer Contra a Redução, Movimento Contra a Redução da Maioridade Penal, Não à Redução da Idade Penal e Não à Redução.
Com amostra de postagens no Facebook, este mapa mostra as concentrações de manifestações contrárias e favoráveis à redução. Fonte: Labic.
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Já no Twitter, há quatro blocos com diferentes posições. A rede marrom, favorável à redução, é "permeada por robôs" que reproduzem conteúdo postado por personalidades como Rachel Sheherazade, Eduardo Cunha, Rodrigo Constantino, e Jair Bolsonaro. A conclusão de que boa parte desse conteúdo é postada por softwares programados é baseada em um filtro que calcula o número de tuítes por minuto. A rede azul é marcada pela oposição à redução, inclinada com a perspectiva federal. Já a rede vermelha, também contrária à proposta, tem como protagonistas atores mais jovens, que trazem novos elementos para o debate, "misturando táticas publicitárias, de ocupação de espaços físicos e ações de engajamento virtuais, com forte criatividade social". No centro do debate, mediando a polarização, aparecem veículos de imprensa, com notícias e discussões sobre a questão.
O mapa mostra as concentrações de manifestações contrárias à redução (a rede azul) e as favoráveis (a rede marrom) no Twitter. Fonte: Labic.
Ainda que o ativismo midiático possa ser considerado um nicho, Malini acredita que a multiplicidade de vozes desmente a visão de que este é um debate acabado ou vencido.
- O rastro de mobilização já está aparecendo. O ideal seria que houvesse um referendo para ouvir a população - defende.