A Polícia Civil do Rio Grande do Sul localizou e prendeu em Jundiaí (SP), no interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (14), um homem que ameaçava colocar bombas no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi alvo de busca e apreensão de computadores e outros elementos, por suspeita de fazer parte de um grupo de extrema direita que se comunica pela Deep Web (ambiente da internet que hospeda sites que não aparecem nas procuras feitas em buscadores convencionais). A operação dos policiais ligados ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) coincide com o atentado feito contra o STF, com explosivos caseiros, por Francisco Wanderley, natural de Rio do Sul, em Santa Catarina.
Ao longo da investigação, a polícia interceptou outras mensagens com ameaças ao Congresso Nacional e ao Museu de Arte de São Paulo (MASP). O investigado também ameaçou de morte um integrante do STF, ministro Alexandre de Moraes, e oito parlamentares federais.
O homem que virou alvo dos policiais gaúchos é um hacker de 36 anos. Ele fazia uso de um correio eletrônico, cujo provedor está estabelecido na Suíça e que não possui acordo de colaboração com as autoridades brasileiras. A Polícia Civil não descarta que a rede em que esse homem atua tenha ligações com Francisco Wanderley.
— Iremos verificar se o catarinense que se explodiu no STF fazia parte dos grupos extremistas dos quais também participava o nosso suspeito principal, esse paulista. E se eles tinham alguma relação — confirma a diretora do Deic, delegada Vanessa Pitrez Corrêa.
Terrorismo, homofobia e racismo
A investigação, coordenada pelos delegados João Vitor Heredia e Filipe Borges Bringhenti, se chama "Operação Deus Vult" ("Deus o quer!, em latim). A expressão, usada pelo hacker ao final de suas mensagens, foi um grito de guerra da Igreja Católica associado às Cruzadas. A frase foi repetida pelos guerreiros cruzados quando o papa Urbano II convocou, em 1095, a união dos cristãos para interromper a expansão islâmica na Europa.
O paulista investigado pelo Deic é suspeito de praticar terrorismo, ameaças, extremismo religioso, homofobia e racismo. A investigação começou quando o hacker encaminhou para o e-mail oficial da deputada estadual Bruna Liege da Silva Rodrigues (PCdoB-RS) mensagens falando em agressão sexual e ameaçando de morte a filha da parlamentar, além de diversas ofensas raciais (a deputada é negra).
"Sua macaca esquerdista maldita, vou estuprar..", ameaça o hacker, num dos e-mails.
Em outro e-mail, endereçado ao ministro Alexandre de Moraes, o hacker avisa:
"Iremos explodir o STF com todos dentro. Este é o aviso de um grupo de brasileiros, patriotas, que não irão aceitar o golpe. Temos aproximadamente 20 kg de explosivo PETN e estamos prontos e instruídos a usar. Espero que vocês estejam preparados para recolher pedaços de corpos, principalmente negros, nordestinos e homossexuais".
Além de Bruna Rodrigues, o homem ameaçou de mortes os deputados federais Guilherme Boulos (Psol-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ), Daiane Santos (PCdoB-RS), Sílvia Cristina Chagas (PP-RO), a vereadora de Belém (PA) Beatriz Caminha dos Santos (PT), a vereadora de Belo Horizonte Cida Falabella (Psol) e o senador Magno Malta (PL-ES).
Os policiais civis gaúchos apreenderam na residência do hacker diversos equipamentos eletrônicos. Ao iniciarem as análises, os agentes descobriram que o nome atribuído no e-mail já era usado em ameaças desde 2020, com diversos outros registros de ocorrência sob investigação nas Polícias Civis e Federal. Os investigadores descobriram que o suspeito usava nomes de vizinhos, para disfarçar suas ameaças.
Os policiais conseguiram localizar o hacker mediante quebra de IP dos computadores e colaboração da Polícia Federal da Suíça. Com base nos indícios, ele foi preso em flagrante.
Os casos de ameaças ao STF, Senado Federal e Aeroporto de Cumbica (Guarulhos, SP) são investigados pela Polícia Federal. Os equipamentos eletrônicos serão periciados e as provas colhidas serão compartilhadas com as demais instituições com investigações em andamento.