Réu por tentativa de explosão de uma bomba próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, o blogueiro Wellington Macedo de Souza teve uma trajetória movimentada nos últimos quatro anos: em 2019, ocupou cargo comissionado com remuneração de R$ 10.373,30 no ministério chefiado pela hoje senadora Damares Alves; em 2020, recebeu quatro parcelas de R$ 600 do Auxílio Emergencial; em 2021, foi preso pela Polícia Federal por divulgação de "ato violento e antidemocrático"; e em 2022 concorreu a um cargo na Câmara dos Deputados pelo PTB.
Já na última terça-feira (10), Souza se tornou alvo de uma ação penal por crime de explosão, ao lado de Alan Diego dos Santos Rodrigues e Washington de Oliveira Sousa — que chegou a ser preso e confessou a montagem da bomba. Segundo o depoimento de Washington, Alan teria sido o responsável por levar a bomba até a Estrada Parque Aeroporto, onde o artefato foi encontrado pela Polícia Militar do Distrito Federal.
Wellington Macedo De Souza — que segue sendo procurado — foi assessor da Diretoria de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos na gestão de Damares. O cargo ocupado por ele tem o código código DAS 102.4, correspondendo a um dos níveis mais altos no Grupo-Direção e Assessoramento Superiores. Segundo a tabela de remuneração de cargos comissionados do governo federal, a remuneração para tal cargo é de R$ 10.373,30.
No Portal da Transparência, é possível observar que o ex-servidor do governo Jair Bolsonaro recebeu, além dos salários, cerca de R$ 24 mil em pagamentos do Executivo federal, entre eles indenizações após a exoneração e pagamentos de diárias. O mesmo site indica ainda que, meses depois de deixar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, o blogueiro passou a receber auxílio emergencial — quatro parcelas de R$ 600, pagas em maio, junho, julho e setembro de 2020.
Em setembro de 2021, Wellington Macedo De Souza foi preso pela PF no inquérito aberto para investigar a organização de manifestações violentas no feriado de 7 de Setembro. Foi no bojo de tal inquérito que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou, na última semana, medidas contra os atos golpistas registrados no último dia 8 em Brasília.
À época, ele foi apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como um dos responsáveis pela divulgação de "ato violento e antidemocrático" previsto para o feriado. Uma de suas postagens no Twitter, na ocasião, registrava, em provável referência ao golpe militar de 1964:
"Após 57 anos, serão derrotados os que se achavam donos do poder. Poder o povo dá. Poder o povo tira, só o povo é o poder", escreveu.
Um ano depois, o blogueiro concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo, mas acabou derrotado. Nas redes sociais, onde se apresenta como coordenador nacional da Marcha da Família, ele pedia votos exibindo uma tornozeleira eletrônica — medida imposta por Moraes, em substituição ao decreto de prisão no inquérito dos atos antidemocráticos.
Contraponto
Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com o réu, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.