Yascha Mounk é um estudioso das democracias em crise há cerca de 10 anos. Segundo ele, antes de o tema se tornar cool. Em palestra no Teatro da Unisinos na noite desta quarta-feira (10), dentro da programação do Fronteiras do Pensamento, o cientista político nascido na Alemanha e naturalizado americano falou sobre populismo, representatividade e, tema polêmico pelo qual é bastante criticado, como a questão identitária está se perdendo em suas demandas, gerando mais segmentação do que propriamente igualdade entre os diferentes.
Para Mounk, a ascensão de governantes de perfil populista é resultado da estagnação econômica em muitos países, mesmo em democracias que vivenciaram crescimento no passado, como o Brasil. Ele entende que esse tipo de governo acaba se tornando totalitarista.
— O populismo é um perigo porque desafia o pluralismo político. Tenta limitar a liberdade na imprensa, diminui o elemento liberal da democracia liberal. Quando você não tem cortes independentes, uma imprensa livre, quando tudo está sob as ordens dessa pessoa que detém o poder, você vê que não é possível removê-lo por meio democráticos — disse.
Ele citou o caso de algumas escolas nos Estados Unidos que separam crianças brancas, latinas e negras, com a pretensão de criar nos pequenos uma consciência sobre raça e etnia, na intenção de torná-los mais preparados para lutar por seus direitos.
— Essa segregação não está sendo perpetuada pelos conservadores. São progressistas que se convenceram de que o propósito-chave da educação progressista é ensinar as crianças a verem a si mesmas na perspectiva racial, tendo a visão correta de si mesmos. Eles são separados em grupos e ensinados que isso é o mais importante sobre sua identidade. É a ideia de que as crianças não brancas terão mais noção para lutar por seus direitos — contou.
Na sua avaliação, isso é um tiro no pé e não ajuda na construção de valores democráticos.
— Criar uma geração de crianças que vão acreditar que o principal sobre elas é a cor da pele não nos levará a uma geração que vai saber lutar por si mesma. Eles vão querer vencer os outros grupos. Esse não é o caminho para uma sociedade mais tolerante — frisou o cientista político.
Para Mounk, a saída para uma sociedade mais justa e igualitária é retomar a crença em valores tradicionais do iluminismo, como a igualdade.
— A alternativa seria, na frente econômica, fazer políticas que possam permitir que a sociedade avance, premiar as premiar pessoas, mesmo que sua contribuição econômica não seja grande. É possível lutar por uma sociedade inclusiva, menos marcada por racismo e sexismo. Precisamos nos ver como indivíduos em vez de membros de grupos. Precisamos incentivar as crianças a verem o que temos em comum, e não o diferencial que o outro pode ter — defendeu.