A cinco meses da eleição, o cenário político aponta para uma corrida enxuta pela prefeitura de Porto Alegre. Se em 2020 a disputa pelo comando da Capital teve 11 postulantes, desta vez as costuras partidárias apontam para cinco candidaturas. O primeiro turno das eleições municipais está marcado para 6 de outubro.
Por enquanto, já estão oficializados os nomes do prefeito Sebastião Melo (MDB), que tenta a reeleição, da deputada federal Maria do Rosário (PT), do deputado estadual Felipe Camozzato (Novo) e da auxiliar de enfermagem Fabiana Sanguiné (PSTU). O deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil) e a ex-deputada Juliana Brizola (PDT) conversam para decidir quem encabeçaria aliança dos dois partidos.
O PT é o único partido com chapa completa e a pré-campanha na rua. Ao lado da candidata a vice, a servidora pública Tamyres Filgueira (PSOL), Maria do Rosário tem promovido encontros nos bairros para formular o programa de governo. À frente de uma inédita coalizão de esquerda que abrange PT, PV, PCdoB, Rede e PSOL, a deputada pretende fazer uma campanha pautada pelo debate do modelo de gestão da cidade, com críticas à atuação de Melo.
— Vamos resgatar as administrações do PT e mostrar que Porto Alegre piorou, com problemas na saúde, na educação e com lixo espalhado nos bairros. Vamos debater o que acontece quando se privatiza um bem público, como a Carris e a CEEE, e o que pode acontecer com a concessão do Dmae — diz o coordenador eleitoral do PT, Cícero Balestro.
O comando de campanha aposta na afinidade de Rosário com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que venceu a eleição com 54% dos votos em Porto Alegre em 2022 — e tenta suavizar a imagem da deputada, chamada apenas de Maria nas peças de propaganda, por conta da rejeição por defender direitos humanos. O ex-prefeito José Fortunati (PV), de quem Melo foi vice, terá forte presença na campanha de rua e no rádio e TV.
No Paço Municipal, Melo lidera uma aliança que até agora conta com seis partidos — MDB, PL, PP, Podemos, PRD e SD —, mas ainda não tem vice. Em encontro com presidentes das legendas nesta semana, ficou pacificado que a vaga será do PL, em indicação a ser referendada até o final de maio. Se o PT insistir na nacionalização da disputa, Melo irá rebater afirmando que Porto Alegre não detém investimentos federais de porte e que a eleição precisa discutir os problemas locais.
Para tanto, Melo quer mostrar que é prefeito mais presente na vida dos porto-alegrenses e fez da zeladoria uma das marcas da gestão. A ideia é exibir ações nos bairros, como a criação de 200 praças, e obras estratégicas, como a conclusão a duplicação da Avenida Tronco e a abastecedora da Ponta do Arado, que melhora o fornecimento de água nas zonas Sul e Leste.
— A zeladoria é a coisa mais importante que o governo fez. É o que a população vê quando sai de casa. O Melo facilita isso quando bota o chapéu de palha e embarra as botas andando pela cidade. Ele é muito autêntico e elevou a autoestima do porto-alegrense, facilitando o ambiente de negócios — afirma o líder do governo na Câmara de Vereadores, Idenir Cecchim (MDB).
Correndo por fora da pretensa polarização entre Melo e Rosário, Thiago Duarte e Juliana Brizola tentam construir aliança para se apresentar como terceira via. Por enquanto os dois querem a cabeça de chapa, mas Juliana não descarta ser vice em nome de uma coalizão competitiva, sobretudo se envolver, além de União Brasil, PDT, PSB e Avante, a federação PSDB-Cidadania.
Presidente do PDT, Carlos Lupi, se reuniu com o governador Eduardo Leite na última semana e o diálogo avançou. Sem candidato na Capital depois que a deputada estadual Nadine Anflor rejeitou concorrer, os tucanos chegaram a cogitar o ex-secretário estadual da Fazenda Aod Cunha. A presidente do partido, Paula Mascarenhas, está conduzindo as negociações e, a despeito da vontade do Cidadania de estar no palanque de Melo, descarta apoio à reeleição do prefeito já no primeiro turno.
— Teremos uma candidatura de oposição ao Melo — afirma Paula.
Sem ter conseguido vencer a cláusula de barreira em 2022, o Novo não terá recursos do fundo eleitoral nem propaganda de rádio e TV. Felipe Camozzato aposta na campanha de rua e nas redes sociais para compensar a perda de visibilidade. O deputado deve concorrer com chapa pura e começou a preparar o plano de governo ouvindo especialistas e líderes comunitários.
— Apoiamos projetos liberais dos dois últimos prefeitos, mas queremos fazer Porto Alegre avançar ainda mais, com concessões, redução de impostos e competitividade — diz Camozzato.
Com viés ideológico antagônico, Fabiana Sanguiné pretende criticar as privatizações e concessões de serviços e espaços públicos conduzidas no governo Melo.
Caxias terá poucas opções, e três chapas já estão articuladas
O segundo maior colégio eleitoral do Estado já tem três candidaturas estabelecidas e não deve ter mais do que cinco nomes nas urnas. O atual prefeito, Adiló Didomenico (PSDB), será candidato à reeleição, com apoio do PRD, ainda com dúvida sobre o vice. A principal opção é o ex-secretário do Meio Ambiente, João Uez, que entrou no Republicanos no início de abril, mas o União Brasil pode indicar Edson Néspolo, que foi candidato à prefeitura em 2016 e 2020, então pelo PDT.
Do PT, a candidata será a deputada federal e ex-vereadora Denise Pessôa. Na tentativa de fortalecer a chapa, o partido articulou apoio do PDT, que indicou o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho para ser o vice na coligação. Além de PCdoB e PV, federados com o PT, o PSOL pode aparecer na coligação, apesar de acenar com a possibilidade de candidatura própria.
O PL aposta no vereador Maurício Scalco, empresário que se elegeu para a Câmara em 2020, ainda pelo Novo. Ao seu lado, Scalco terá a vereadora Gladis Frizzo (Progressistas) como candidata a vice. O Novo e o Podemos, do deputado federal Maurício Marcon, estarão ao lado dos liberais.
Com discurso de manter o protagonismo, o MDB também indicará um nome próprio à majoritária. O ex-governador José Ivo Sartori anunciou, em fevereiro, que não seria candidato, e o favorito neste momento é o vereador e ex-secretário municipal de Esportes e Lazer Felipe Gremelmaier. O ex-deputado federal Mauro Pereira também colocou o nome à disposição, e os emedebistas devem decidir sobre o candidato nos próximos dias.
PSB, PSD e Solidariedade aguardam definição do MDB para decidir o futuro, enquanto o PRTB tem dúvidas entre integrar uma aliança à direita ou indicar candidato próprio.
Cenário incerto em Canoas
Entre os maiores colégios eleitorais do RS, o quadro mais incerto é o de Canoas. Após dois afastamentos por ordem judicial, o prefeito Jairo Jorge (PSD) reassumiu a cadeira no início de abril. Apesar do desgaste, Jairo manteve maioria na Câmara e prepara a candidatura à reeleição.
No consórcio governista que vai da esquerda à centro-direita, há disputa pela indicação do vice. Na segunda-feira (29), o PT local tirou resolução reivindicando a vaga, apresentando os vereadores Maria Eunice e Emilio Neto e o sindicalista Paulo Chitolina. Também é cotado o presidente da Câmara, Cris Moraes, do PV, legenda federada com o PT. Por outro lado, o Republicanos, da ex-vice-prefeita Beth Colombo, também almeja compor a chapa. Nos dois casos, os aliados do prefeito cogitam lançar candidato caso sejam preteridos.
Rompido com Jairo, o vice-prefeito Nedy Marques (PP) era cotado para concorrer, mas o movimento refluiu depois que o titular reassumiu o cargo. No momento, há chances de composição entre Nedy e o PL. Para isso, os liberais precisarão apaziguar o ambiente interno, que tem três pré-candidatos colocados: o vereador Airton Souza, o advogado Felipe Martini, ex-secretário da Saúde de Jairo, e a servidora pública Nilce Schneider.
Outro ator relevante, o deputado federal e ex-prefeito Luiz Carlos Busato ensaiou aproximação com Jairo, mas deixou o bloco do prefeito. Independente, o União está entre a neutralidade e o retorno ao grupo governista. O PRD pode lançar o vereador Marcio Feitas, enquanto o PSOL aposta no ex-vereador Almiro Gehrat, conhecido como Cebola.
Ex-prefeitos tentam voltar ao poder Pelotas
Há três mandatos sucessivos no comando de Pelotas, o PSDB deve confirmar nos próximos dias a candidatura de Fernando Estima à prefeitura do município. Empresário, Estima é gerente de Planejamento da Portos RS e foi a escolha do partido após o deputado federal Daniel Trzeciak desistir de concorrer.
Maior município da Metade Sul, Pelotas é administrada pela presidente estadual do PSDB, Paula Mascarenhas, e berço político do governador Eduardo Leite. Para tentar romper o ciclo dos tucanos na cidade, a principal candidatura de oposição é do ex-deputado e atual presidente da Trensurb, Fernando Marroni (PT). Prefeito de 2001 a 2004, Marroni tenta voltar ao governo reproduzindo a coalizão de esquerda liderada pelo PT em Porto Alegre e ambiciona atrair o União Brasil. Num aceno ao centro político, Marroni gostaria de ter como vice a jornalista Maíra Lessa (UB).
Além de Marroni, outros ex-prefeitos também planejam concorrer. Irajá Rodrigues (MDB) e Fetter Jr (PP) fizeram um evento juntos no final do ano passado, mas enfrentam resistências das respectivas legendas, que flertam com a candidatura tucana.
No PL, o empresário caxiense Marciano Perondi trabalha para ter como vice a ex-deputada Adriane Rodrigues, filha do ex-prefeito Anselmo Rodrigues. O PSB está dividido entre as pré-candidaturas do advogado Reginaldo Bacci e do gestor público Tony Sechi, com o PDT ocupando a vaga de vice.
Santa Maria deve ter ao menos oito candidatos
Com oito partidos pretendendo lançar candidatos, Santa Maria deve ter uma das disputas mais numerosas entre os maiores municípios gaúchos. Disposto a emplacar o sucessor, o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) lançou o atual vice, Rodrigo Decimo. Empresário da construção civil, Decimo lidera aliança com o Republicanos e flerta com o PP.
Na oposição, o nome mais forte é o do deputado estadual Valdeci de Oliveira (PT). Duas vezes prefeito, Valdeci terá como vice outro tradicional político local, José Farret, que foi duas vezes prefeito e uma vez vice.
Com discurso de resgate do tradicionalismo e foco na educação, o PDT aposta no ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Paulo Burmann. Já o Podemos acredita na popularidade do radialista Tony Oliveira, vereador em primeiro mandato e apresentador do programa de maior audiência na cidade.
No PL há três vereadores disputando a preferência do ex-presidente Jair Bolsonaro: Roberta Leitão, Tubias Callil e João Ricardo Vargas. Correndo por fora, ainda há o pastor Jader Maretolli. O candidato deverá ser escolhido em 17 de maio, durante visita de Bolsonaro ao município.
O MDB acena com a candidatura do secretário estadual de Desenvolvimento Social, Beto Fantinel, que transferiu o título de Dona Francisca para Santa Maria. O Novo deve lançar chapa pura, capitaneada pelo ex-deputado Giuseppe Riesgo. Descontente com a aliança do PT com União Brasil, o PSOL decidiu ter candidato próprio, mas ainda não definiu o nome.