A disputa por protagonismo no PL desmanchou a chapa à reeleição do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), e sacudiu a corrida pela sucessão municipal. Sem garantia de que terá apoio do principal partido do bolsonarismo, Melo busca reagrupar sua base em meio à disputa pela vaga de vice.
A confusão se tornou pública na sexta-feira (15), quando o deputado federal Luciano Zucco assumiu a presidência do PL na Capital. Ao retirar do posto o então presidente André Flores, indicado ao cargo pelo vice–prefeito Ricardo Gomes, Zucco não se comprometeu em apoiar a reeleição de Melo tampouco descartou uma candidatura própria à prefeitura.
A atitude enfureceu Gomes, que anunciou sua desfiliação do PL e a disposição de não concorrer a nenhum cargo nas eleições de outubro. Desfalcado do vice, Melo se viu fragilizado num momento considerado chave para a eleição, em meio à janela partidária e com as siglas discutindo alianças e candidaturas.
Com 11 partidos na base de apoio, o prefeito praticamente não enfrentava defecções. A aparente tranquilidade logo se transformou em terremoto político para o prefeito. Sem o PL, Melo perderia não só um pilar ideológico, mas também a legenda com maior tempo de TV e recursos do fundo eleitoral.
A divisão repentina no consórcio governista deflagrou uma busca por espaço. Aliados como PP e PSD viram na crise uma chance de emplacar o vice. No PSD, o nome sugerido é o da vereadora Cláudia Araújo. Já o PP convidou Gomes a retornar à sigla, onde poderia formar chapa com Melo novamente, mas o vice declinou.
O episódio também gerou desavenças internas. No MDB, Melo foi cobrado pela postura na eleição ao governo do Estado em 2022, quando fez campanha para Onyx Lorenzoni (PL) mesmo tendo Gabriel Souza (MDB) como vice de Eduardo Leite (PSDB). À época, ele disse que seria retribuído com o apoio do PL à reeleição, gesto agora colocado em dúvida.
No PL, a cizânia provocada pela postura de Zucco é vista como um revival das brigas que marcaram o extinto PSL, debilitando a unidade partidária. Além da mudança no comando da legenda na Capital, a presidência de outros oito diretórios municipais foram entregues ao grupo do deputado, colocando em risco arranjos locais para as eleições em cidades importantes, como Santa Maria, Canoas e Bento Gonçalves. A movimentação alarmou até mesmo o presidente do PL no Estado, Giovani Cherini, que mantém-se quieto por enxergar no horizonte ameaça de perder o posto e ainda a pretensa candidatura ao Senado em 2026.
Em visita a Porto Alegre para participar de um evento no sábado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) se assustou com a repercussão negativa do episódio e com a decisão de uma ala do PL - capitaneada por Gomes, pelo ex-ministro Onyx Lorenzoni e pelo deputado Rodrigo Lorenzoni - de manter o apoio a Melo a despeito da posição anunciada por Zucco.
— O deputado Zucco tem legitimidade e liderança para ocupar a presidência do PL em Porto Alegre. Nossa contrariedade é com a forma que a mudança foi feita e com o fim do compromisso que firmamos ano passado de apoiar a reeleição do prefeito Melo. O melhor para vencer a eleição e evitar a volta do PT era a manutenção da chapa — afirma Rodrigo.
Os desdobramentos do caso chegaram a Brasília e ainda no domingo Zucco teria sido orientado pela direção nacional do PL a procurar Melo. Impressionado com as cobranças recebidas nas redes sociais que o acusavam de dividir a direita na Capital e facilitar a eleição para o PT, Zucco telefonou para o prefeito, agendando visita para o dia seguinte.
Na segunda-feira, sentado à cabeceira da mesa de reuniões do prefeito, o deputado disse a Melo que ambos tinham a esquerda como adversário comum, mas não se comprometeu em retomar a aliança no primeiro turno. No entorno de Melo, a iniciativa foi bem recebida, mas insuficiente para acalmar os ânimos.
Com Gomes na chapa, Melo projetava não só repetir uma dobradinha vitoriosa, mas também se afastar do estereótipo radical que por vezes marca o bolsonarismo. Com bom trânsito na classe média e entre o empresariado, o vice preenchia uma lacuna de Melo, que tem penetração mais forte nas periferias. Conselheiros do prefeito entendem que, mesmo com um retorno do PL à aliança, o partido não tem um nome para a vaga de vice que tenha o mesmo perfil de Gomes, além de ter aberto uma “guerra civil desnecessária” pelo posto.
Zucco diz que não rompeu com o prefeito e que está mapeando pessoas para compor a chapa governista. Novas filiações devem ocorrer nos próximos dia e o próprio Melo foi instado a sugerir nomes. Segundo o deputado, foi o prefeito quem o procurou para conversar e a decisão sobre um acordo eleitoral "virá no momento certo".
Na oposição, o racha na base governista foi visto como mais um percalço para o prefeito em meio aos preparativos para a campanha. Com o União Brasil costurando acordo com PDT, PSB e Avante e a possibilidade de o PSDB lançar candidatura própria, a esquerda acredita que Melo está de distanciando do centro político ao mesmo tempo que perde o maior partido de direita. Para a presidente do PT em Porto Alegre, Laura Sito, essa fragmentação fragiliza a situação de Melo, favorecendo a chapa Maria do Rosário (PT) e Tamyres Filgueira (PSOL).
— No ano passado eles tinham uma chapa montada e falavam em vitória no primeiro turno. Isso tudo agora implodiu e reforça a competitividade da nossa candidatura — comenta Laura.