Vice-governador do Rio Grande do Sul entre 2015 e 2018, José Paulo Cairoli (MDB) disparou, nesta quarta-feira (7), uma série de críticas a setores políticos e do funcionalismo público do Estado. As falas ocorreram durante reunião de entidades empresariais para organizar a mobilização contra os cortes de benefícios fiscais promovidos pelo governo Eduardo Leite. Cairoli participou da reunião na condição de ex-presidente da Federasul.
Na primeira parte de sua fala, ao avaliar as possibilidades atuais de mobilização empresarial, Cairoli relembrou seu período como vice-governador e fez críticas à postura de deputados estaduais durante as negociações políticas.
— Então, eu acho, primeiro: (temos que) tomar mais consciência de como é que funciona essa mecânica… e achar que a Assembleia, que é muito fácil de ser dominada… Eu participei de uma negociação, deputado por deputado, trocam por qualquer coisa. O troço não é brinquedo. Saem da sala (plenário da Assembleia) para não votar. Vocês observem como é o… Aí aparece uns malucos que votaram a favor… contra o aumento de imposto. Não saiu (aumento de ICMS) na Assembleia porque houve um movimento muito grande contra — disse o ex-vice-governador.
Cairoli, que é do mesmo partido do vice-governador Gabriel Souza, afirmou na sequência ter certeza de que Leite não levará a cabo a sua promessa de cortar os benefícios fiscais que são concedidos aos itens da cesta básica. Na avaliação do ex-governador, o decreto de Leite que corta tais benefícios é um “bode na sala”, ou seja, uma medida desconfortável que, em um segundo momento, será retirada para gerar uma sensação de alívio.
— O que ele (Eduardo Leite) está botando agora, para mim, é o bode na sala. Evidente que não vai ter aumento (de imposto) da cesta básica. Para mim está claro que não vai ter. Mas ele vai cutucar lá na indústria — acrescentou Cairoli, que foi vice-governador durante o governo de José Ivo Sartori (MDB).
Fazenda, Procuradoria e privilégios
Segundos depois, o ex-vice-governador disse acreditar que a escolha de Leite pela secretária estadual da Fazenda, Pricilla Santana, faz parte de um projeto de poder do governador gaúcho.
— Essa secretária que está aí, eu briguei com ela na negociação da dívida, e o Eduardo Leite habilmente botou ela aqui para renegociar (a dívida). Depois ela sai. Isso é um projeto de poder do nosso governador. Habilmente. E tem uma bela narrativa. Ele vai para a rádio e convence todo mundo. Vamos ser bem claros. E não é nós com mídia (publicidade) que vamos mudar (isso) — disse Cairoli.
Ainda segundo Cairoli, dois grupos de funcionários públicos têm poder político exacerbado sobre os governadores e mantêm privilégios que não são alvo de críticas e mobilizações.
— O Estado vive dominado por corporações: que é a Secretaria (Estadual) da Fazenda e a Procuradoria (Geral) do Estado. O Estado do Rio Grande do Sul não tinha dinheiro para pagar os salários dos funcionários do Executivo, mas todo o funcionário da Secretaria Estadual da Fazenda, aposentado ou não, ganha produtividade. Você conhece uma empresa que está dá prejuízo e dá produtividade? E os aposentados (da Fazenda) também. Não vejo nenhum movimento (de mobilização) a esse tipo de coisa. E dizia para o Sartori que ele era o culpado disso, porque ele, quando era deputado, aprovou isso na Assembleia — recordou Cairoli.
Em outro exemplo sobre o que considera ser privilégios do funcionalismo que não são alvo de críticas de entidades, Cairoli lembrou que os desembargadores têm direito a dois meses de férias remuneradas ao ano.
— Agora, não subestime a Secretaria (Estadual) da Fazenda. Eles cuidam do deles. E eles são tudo “Nutella”. Eu com o Bins (ex-secretário da Fazenda Luiz Antônio Bins), que é um cara muito cabeça boa, eu fui para cima deles e ele: “não, não vamos tirar a produtividade (dos servidores da Fazenda) porque eu vou me aposentar no ano que vem e eu perco”. Essa é a visão das pessoas. Tu fala para o desembargador que ele tem dois meses de férias, ele diz que trabalha mais do que os outros. E assim é todo mundo! E quanto aumentou o (gasto do) Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul? Quanto os desembargadores aumentaram agora? Não vi ninguém falando nada — criticou Cairoli.
Questão tributária
Durante a fala, o ex-vice reforçou sua contrariedade com propostas de aumento de imposto, mas ponderou que outros estados e países estão, atualmente, elevando tributos. Ele também pediu que os empresários presentes na reunião não propaguem informações erradas sobre o peso dos impostos cobrados atualmente pelo Rio Grande do Sul na comparação com outros Estados.
— Era bom fazer uma planilha: o Estado do Rio Grande do Sul não é o Estado com imposto (ICMS) mais alto. Então, vamos ter que começar a dizer as coisas mais como são. Nosso ICMS (do Rio Grande do Sul) é o menor do país. O Estado do Ronaldo Caiado (governador de Goiás) aumentou imposto. O Caiado, que talvez seja o nosso candidato para presidente, aumentou (imposto), cobra a exportação da soja — pontuou Cairoli.
Cairoli foi presidente da Federasul entre 2006 e 2012. Em 2014, concorreu pelo PSD como vice de Sartori. Em 2021, o empresário migrou para o MDB, a convite de Sartori.
Manifestação após repercussão
Mais tarde, em uma postagem em rede social, Cairoli pediu desculpas pelas declarações e avaliou que utilizou "palavras inadequadas".