Na largada de mais um ano eleitoral, um levantamento mostra a distribuição do poder nos 50 maiores municípios do Rio Grande do Sul. Dez partidos comandam as cidades mais populosas, onde estão concentrados 64,5% dos eleitores gaúchos.
O estudo revela que o PP é predominante no G50, comandando 13 prefeituras. Logo atrás, na segunda posição, surge o MDB, com 12 municípios. O PSDB ocupa o terceiro lugar, com nove.
Produzido pelo cientista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice, o mapa vai além de um simples ranking. O estudo mostra, por exemplo, que a predominância do PP se dá majoritariamente em municípios menores entre os maiores. Das 13 prefeituras do partido, 10 têm eleitorado abaixo de 66 mil habitantes, sendo quatro com menos de 50 mil.
– O PP historicamente se concentrou em municípios menores. Essa tradição cria um dilema, porque, ao mesmo tempo em que cria uma base importante para eleger deputados, não sustenta uma candidatura competitiva ao governo do Estado. A última vez que o PP elegeu governador no RS foi em 1982, há mais de 40 anos – cita Borenstein.
Outro aspecto revelado pelo estudo foi o crescimento do PSDB. À frente do Palácio Piratini desde 2018, com a primeira vitória de Eduardo Leite, a sigla comanda cinco das 10 maiores cidades, sendo três entre os cinco principais colégios eleitorais (Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria).
O fortalecimento dos tucanos faz o partido dividir com o MDB o eleitorado de centro. Com 12 prefeituras, três delas entre as 10 maiores, o MDB se firma como uma legenda consolidada nos municípios grandes e médios.
Para Borenstein, um reflexo dessa opção dos eleitores ficou cristalizado na eleição estadual de 2022, quando pela primeira vez o MDB não lançou candidato próprio a governador, indicando o vice na chapa de Leite, Gabriel Souza.
– Essa decisão se dá muito pelo crescimento do PSDB, que passou de quatro municípios no G50 em 2012 para nove em 2020. Mas mostra também divisão interna do MDB, que enfrenta dificuldades para unir o partido. A eleição municipal deve servir de norte para o MDB em 2026 – pontua o cientista político.
Na esquerda, o PT, um dos mais relevantes partidos do Estado, aparece com apenas uma prefeitura – São Leopoldo, no Vale do Sinos. Para Borenstein, a situação ainda é fruto da onda de antipetismo surgida durante a Operação Lava-Jato e que fez o partido cair de 17 prefeituras no G50 em 2012 para apenas três em 2016. A agremiação deu sinais de recuperação em 2020, quando obteve cerca de 800 mil votos no RS, mas não traduziu a votação em vitórias.
– Além do desgaste com a Lava-Jato e o impeachment de Dilma Rousseff, o PT tem dificuldade em renovar seus nomes e sua agenda política. A última vitória em Porto Alegre tem mais de 20 anos – lembra Borenstein.
No outro polo do espectro ideológico, o analista aponta para a presença do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que só conquistou uma prefeitura do G50 em 2020 e atualmente comanda três municípios. De acordo com Borenstein, esse crescimento mostra a força do bolsonarismo no Estado, com possível influência na eleição de outubro. Somente em 2023, Bolsonaro esteve duas vezes no RS, sempre abonando filiações.
– O interior do RS tem uma base bolsonarista muito forte, e a expectativa é que Bolsonaro seja um garoto-propaganda do partido, aumentando ainda mais essa presença no mapa do poder – afirma o analista.
Confira as siglas à frente dos 50 maiores municípios do RS
- PP - 13 municípios
- MDB - 12 municípios
- PSDB - 9 municípios
- PDT - 6 municípios
- PL - 3 municípios
- PRD* - 2 municípios
- Republicanos - 2 municípios
- PSD - 1 município
- PT - 1 município
- Avante - 1 município
*Foi criado em novembro a partir da fusão do PTB e do Patriota.
As siglas que governam as 11 maiores cidades
- Porto Alegre - MDB
- Caxias do Sul - PSDB
- Canoas - Avante*
- Pelotas - PSDB
- Santa Maria - PSDB
- Gravataí - PSDB
- Novo Hamburgo - MDB
- São Leopoldo - PT
- Viamão - PSDB
- Passo Fundo - PSD
- Rio Grande - MDB
*Nedy de Vargas Marques (Avante) está à frente de Canoas devido ao afastamento do prefeito Jairo Jorge (PSD) por decisão judicial em novembro.