O general Augusto Heleno classificou como "fantasia" a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que relatou à Polícia Federal detalhes de uma suposta reunião do então presidente Jair Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de um golpe de Estado que teria o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
— Não existe um ajudante de ordens sentar numa reunião com comandantes das Forças. Isso é fantasia — disse Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na gestão Bolsonaro, durante depoimento nesta terça-feira (26) à CPI do 8 de Janeiro.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) confrontou a declaração do ex-ministro ao apresentar uma foto de Mauro Cid em uma das reuniões de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas no Palácio do Planalto, em 2019, inclusive com a participação de Heleno. O militar capitulou alegando com ajudante de ordens não participava ativamente dos encontros.
No depoimento, Heleno, que prestou na depoimento na condição de testemunha, tentou se descolar da delação de Cid durante os questionamentos da relatora, Eliziane Gama (PSD-MA). Em dado momento, o ex-ministro falou palavrões em crítica às perguntas da senadora.
— Ela fala as coisas que ela acha que está na minha cabeça. P..., é para ficar p..., p... que pariu — disse.
O conteúdo da delação de Cid foi revelado na semana passada. De acordo com o relato de Cid à PF, Bolsonaro — enquanto ainda era presidente — teria recebido do assessor Filipe Martins uma minuta de decreto para prender adversários e convocar novas eleições.
Bolsonaro, então, ainda segundo Cid, teria levado o documento para a alta cúpula das Forças Armadas, obtendo apoio do almirante Almir Garnier Santos, da Marinha. Bolsonaro negou as acusações do ex-ajudante de ordens.
"Nunca ouvi falar em minuta do golpe"
Heleno disse aos parlamentares não ter conhecimento desse encontro e ainda desqualificou as informações prestadas por Cid à PF.
O ex-ministro ainda se valeu do direito ao silêncio quando foi questionado pelo deputado Rubens Junior (PT-MA) se participou do suposto encontro com os comandantes das Três Forças em que teria sido discutido o golpe de Estado. Ele também ficou em silêncio em uma série de perguntas da senadora Ana Paula (PSB-MA) sobre a ditadura militar e a atuação dele no governo Bolsonaro.
Durante o depoimento, o general ainda repetiu uma frase dita por ele no final do ano passado que insinuava um golpe contra o novo governo:
— Continuo achando que bandido não sobe a rampa — numa alusão ao presidente Lula, que chegou a ser preso pela Operação Lava-Jato e depois teve as condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro disse ainda que ocupava um cargo de natureza civil e, por isso, não participava de reuniões com a cúpula militar. O ministro também afirmou que não pode prestar informações sobre o 8 de janeiro por não ter exercer nenhuma função no governo federal na data.
— Nunca ouvi falar na minuta de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), minuta do golpe. O presidente da República disse, várias vezes, que jogaria dentro das quatro linhas, e não era minha missão convencer o presidente a sair das quatro linhas. Pelo contrário — disse Heleno.