A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) terminou nesta quarta-feira (27) sem votar o relatório apresentado pelo relator, Ricardo Salles (PL-SP).
Integrantes do colegiado criticaram as manobras feitas pelo governo em articulação com o centrão e alegram que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não cumpriu compromisso para garantir que pudesse haver votação.
— Este governo federal joga baixo e cobrou a conta dos partidos governistas e dos cargos entregues. Isso prejudicou diretamente na aprovação do relatório — disse o presidente da CPI, Tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS).
Salles afirmou que, mesmo assim, o documento final será enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Procuradoria-Geral Eleitoral e o Tribunal de Contas da União (TCU).
Diversos deputados da oposição elogiaram o trabalho feito na CPI, ainda que o objetivo final — a aprovação do relatório — não tenha sido alcançado. Tanto Zucco quanto Salles acreditavam que conseguiriam aprovar o documento.
— Se tivesse sido submetido à votação ontem (terça), teria sido aprovado, mas infelizmente as manobras regimentais não permitiram que isso assim acontecesse — declarou Salles.
Ele já fez concessões ao centrão para garantir a aprovação. O nome do deputado Valmir Assunção (PT-BA) foi retirado da lista de indiciados. Líderes acreditam que o indiciamento poderia resultar na cassação do petista e abriria brechas para a condenação de demais parlamentares no futuro.
O presidente da CPI e o vice-presidente, Kim Kataguiri (União-SP), dialogaram com o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), para garantir votos favoráveis ao parecer final, o que lhes foi garantido. Faltava dialogar com Lira.
Integrantes da CPI do MST relatam que, ao dialogar, Lira assegurou que daria o prazo necessário para que o relatório pudesse ser votado, o que não aconteceu.
O relatório de Salles foi lido, mas um pedido coletivo de vista adiou a votação. Concedido o prazo, seriam necessárias duas reuniões para que a matéria pudesse ser votada. Essa foi a única reunião do colegiado em todo o mês de setembro.
A Câmara não realizou reuniões na sexta (22) e na segunda-feira (25), restando a terça-feira (26) — último dia da CPI — para apreciação do relatório. Como só houve uma sessão após o pedido de vistas, o colegiado não pôde realizar a votação.
Zucco tentou procurar Lira ao longo desta semana para garantir tempo suficiente, mas nenhum ato foi publicado até então prorrogando o trabalho da CPI. Em diversos momentos da CPI, o centrão já realizou demonstrações de força, como aconteceu quando o PP fez uma troca de parlamentares durante sessão da CPI, no fim de agosto, e impediu que a oposição aprovasse requerimentos que prejudicariam o governo.
Quem realizou as substituições foi o então líder do PP, André Fufuca (MA), que foi empossado ministro do Esporte neste mês.