Sob orientação do seu novo advogado, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), decidiu não responder os questionamentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), que investiga a invasão da Praça dos Três Poderes por manifestantes golpistas. A estratégia já tinha sido adotada no primeiro depoimento de Cid na CPI no Congresso Nacional.
— Por orientação da minha defesa técnica, farei uso do meu direito constitucional de silêncio — informou ele nesta quinta-feira (24), no início da sessão da comissão.
Antes de anunciar que permaneceria em silêncio, Cid leu um breve discurso aos deputados. Afirmou que não foi nomeado ajudante de ordens de Bolsonaro por motivos políticos. Explicou também que, entre as funções do seu cargo, está a recepção de correspondências recebidas pelo presidente da República.
— Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões. não estava na minha esfera analisar propostas de apoiadores — assegurou.
No início da sessão, o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), discutiu com Bitencourt após Cid anunciar que permaneceria em silêncio. O parlamentar afirmou que o ex-auxiliar de Bolsonaro foi convocado à Comissão na condição de testemunha, após decisão do ministro do Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O defensor negou e afirmou que o militar seria investigado, o que lhe daria direito de não responder as perguntas.
Esse é o primeiro depoimento de Cid sob a defesa do advogado Cezar Bitencourt. Na última semana, o defensor afirmou que seu cliente confessaria a participação no esquema que desviou joias da Presidência e apontaria Bolsonaro como mandante. Bitencourt, no entanto, recuou. Publicamente, o advogado passou a dizer que Cid apenas cumpria ordens de "resolver o problema do Rolex".
— Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos — justificou Bitencourt.
Questionamentos
Mauro Cid foi perguntado se houve influência da amizade para que fosse escolhido como Ajudante de Ordens, se participou ou planejou de ação para divulgação de fake news, se participou de algum tipo de pressão à cúpula das Forças Armadas para apoiarem planos golpistas. E também se poderia explicar como foi a participação no esquema de venda das joias recebidas por Bolsonaro.
A mesma tática foi usada quando indagado sobre as movimentações financeiras que realizou, mostrando que entraram R$ 4,5 milhões em contas de sua titularidade e tendo renda declarada no mesmo período de apenas R$ 956 mil. Até mesmo quando perguntado se estaria disposto a fazer algum ato para salvar sua carreira militar, já que seria expulso do exército em caso de condenação, Mauro Cid decidiu ficar em silêncio.
Ao fim dos questionamentos, o presidente da CPI, Chico Vigilante reafirmou que o silêncio também fala.
— O senhor não respondeu nenhuma das perguntas. O silêncio foi bastante elucidativo para todos nós — declarou o presidente.