Walter Delgatti Neto, conhecido como "hacker da Lava-Jato", presta depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro nesta quinta-feira (17). Entre outros pontos, ele confirmou que teve um encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022, mediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
— Apareceu a oportunidade da Carla Zambelli de um encontro com Bolsonaro, em 2022, antes da campanha. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições, as urnas, e por ser o presidente da República, eu fui a esse encontro — disse.
Delgatti afirmou ainda que Bolsonaro lhe ofereceu um indulto para que violasse medidas cautelares da Justiça e invadisse o sistema das urnas eletrônicas para expor supostas vulnerabilidades. Segundo o depoimento, a conversa com o ex-presidente aconteceu no Palácio da Alvorada e contou com a participação, além de Zambelli, do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e do coronel Marcelo Câmara.
— Sim, recebi (proposta de indulto). Inclusive, a ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado (Daniel Silveira) e, como eu estava investigado pela (operação) Spoofing, impedido de acessar a internet e trabalhar, eu estava visando esse indulto, que foi oferecido no dia — disse Delgatti em resposta à relatora da CPI, Eliziane Gama (PSD-MA).
O hacker disse também ter ouvido, em reunião com Bolsonaro, que o governo já tinha conseguido grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. De acordo com ele, o ex-presidente teria sugerido que Delgatti "assumisse a autoria" desse grampo.
Alvo de investigação
Delgatti Neto está preso preventivamente por decisão do STF em decorrência de investigação da Polícia Federal (PF) que apura sua suposta contratação por Zambelli para tentar invadir sistemas do Poder Judiciário. Ele teria invadido o Banco Nacional de Mandados de Prisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para inserir um falso mandado de prisão contra o ministro Moraes, em janeiro deste ano, e alvarás de soltura de pessoas presas.
Em depoimento à PF, na quarta-feira (16), o hacker apresentou provas do recebimento de cerca de R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli. Conforme o advogado dele, Ariolvaldo Moreira, R$ 14 mil foram pagos em depósito bancário e o restante em espécie, por um assessor da parlamentar em São Paulo.
A defesa de Zambelli voltou a negar que ela tenha cometido qualquer crime e rechaçou a hipótese de pagamento ao hacker.