Na véspera da retomada do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de ação que pode torná-lo inelegível, Jair Bolsonaro se reuniu nessa segunda-feira (26) com parlamentares federais e estaduais do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo. O encontro integra um roteiro de viagens que o ex-presidente tem feito pelo país para se defender e difundir o discurso de que é "perseguido".
Depois do encontro com os correligionários, Bolsonaro declarou que não é "insubstituível", mas indicou que ainda é o principal nome do Partido Liberal:
— Não existe ninguém insubstituível. Tem muita gente no momento muito mais competente do que eu, mas que não tem o conhecimento nacional que eu tenho. Além de eu ter 28 anos de Parlamento, 15 de Exército, eu tive quatro de presidente da República. E eu consegui, graças a Deus, o carinho de uma parte considerável da população.
O TSE retoma hoje o julgamento da ação que pode cassar por oito anos os direitos políticos de Bolsonaro. Ele é acusado de abuso de poder político, conduta vedada, desordem informacional e uso indevido dos meios de comunicação em razão de reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, em julho do ano passado. Na ocasião, o então presidente disse, sem apresentar provas, que as eleições no Brasil não seriam confiáveis.
— É justo cassar os direitos políticos de alguém que se reuniu com embaixadores? Não é justo falar: Atacou a democracia. Aperfeiçoamento, buscar, colocar camadas de proteção, isso é bom para a democracia — disse Bolsonaro, ontem.
Entrevista para a Folha de São Paulo
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo dessa segunda-feira, o ex-presidente falou sobre vários temas, sempre usando frases de efeito e adotando o tom coloquial característico. Bolsonaro declarou que, se condenado, irá continuar fazendo a sua parte, voltando a usar a expressão imbrochável. O líder do PL não descarta, ainda, uma possível reversão de resultado no futuro, pois, diz que conhece como funciona a composição das cortes superiores, de como mudam de acordo com os governos.
Ele ainda afirmou ter uma "bala de prata" para as eleições 2026. Segundo ele, os quatro anos de governo, indo para o meio da massa, fez com que a população voltasse a a acreditar no seu país. No entanto, caso perca os direitos políticos não descarta uma nova temporada nos Estados Unidos. Diz que poderia trabalhar como garoto-propaganda da venda de imóveis para brasileiros nos EUA. Reforça, porém, que só iria com a toda a família.
Bolsonaro voltou a falar sobre a reunião com embaixadores - motivo pelo qual está sendo julgado no TSE - em que colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro. E, de novo, negou que tenha feito ataque ou dito notícias falsas acerca da segurança das urnas eletrônicas.
"Aperfeiçoamento"
Ainda de acordo com o ex-presidente, não houve "ataque à democracia" no evento no Alvorada.
— Eu já fui multado, no meu CPF, em R$ 20 mil, por causa daquela reunião com embaixadores. O que não podemos aceitar passivamente no Brasil é que possíveis críticas ou sugestões de aperfeiçoamento no sistema eleitoral sejam tidas como um ataque à democracia — disse ele.
Ontem, em São Paulo, o ex-presidente foi recebido pelo presidente da Assembleia paulista, André do Prado (PL), e pelo deputado estadual Gil Diniz (Republicanos). O ex-secretário de Comunicação Social (Secom) Fábio Wajngarten acompanhou a reunião na Casa. No domingo, Bolsonaro almoçou com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Nessa série de viagens - Bolsonaro esteve em Porto Alegre na semana passada -, o ex-chefe do Executivo busca ajudar Valdemar a aumentar o número de filiados do PL para disputar prefeituras em 2024. Em São Paulo, o maior dilema do bolsonarismo está na capital. O ex-ministro do Meio Ambiente e hoje deputado Ricardo Salles, que se colocou como candidato à Prefeitura, tem tido atritos com Valdemar.
Nunes
Dentro da legenda, uma frente defende um caminho mais "moderado", em oposição a uma ala mais radical da sigla ligada ao ex-presidente. Discute-se até mesmo uma filiação do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Também há possibilidade de o MDB ficar com a capital e abrir mão de outras disputas em favor do PL.
Durante a reunião na Assembleia, parte dos parlamentares manteve a resistência ao apoio do PL a Nunes. Bolsonaro evitou falar sobre a disputa na capital paulista.
— Não quero entrar em detalhes. Tive uma conversa com ele (Nunes) e um empresário falou: Anuncie apoio ao Ricardo Nunes. E o que eu falei naquele momento? Vamos ter que tomar muitas tubaínas juntos ainda.