No início da tarde desta quinta-feira (1º), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou a indicação do advogado Cristiano Zanin para assumir a cadeira deixada por Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF). A indicação deve ser oficializada no Diário Oficial da União ainda nesta quinta-feira (1º).
Mais cedo, a informação já havia sido confirmada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O advogado que defendeu o presidente na Operação Lava-Jato será sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, presidida por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), responsável pela definição da data da audiência que pode selar a indicação presidencial.
— Eu conheço as qualidades como advogado, como chefe de família e conheço a formação do Zanin. Ele será um excepcional ministro da Suprema Corte, se aprovado pelo Senado. E eu acredito que será. E acho que o Brasil vai se orgulhar de ter o Zanin como ministro da Suprema Corte — disse o presidente.
No Twitter, Lula reafirmou a indicação:
"Já era esperado que eu fosse indicar o Zanin para o STF, não só pela minha defesa, mas porque eu acho que se transformará em um grande ministro da Suprema Corte. Conheço suas qualidades, formação, trajetória e competência. E acho que o Brasil irá se orgulhar", escreveu Lula.
Trajetória
Cristiano Zanin Martins é paulista de Piracicaba. Ele mudou-se para São Paulo em meados da década de 1990 para estudar Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Depois de graduado, foi professor de Direito Civil e de Direito Processual Civil na Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp).
Entre 2004 e 2022, o agora indicado a ministro do STF foi sócio do Teixeira Zanin Martins Advogados, escritório em que atuava ao lado da esposa, Valeska, e do sogro Roberto Teixeira, compadre de Lula. O futuro viria a colocar Zanin na defesa de Lula na esfera criminal por intermédio de Teixeira, que tinha relação pessoal com o presidente da República e o defendera na Justiça em processos anteriores.
A partir de julho de 2022, Zanin e Valeska deixaram a sociedade com Teixeira e fundaram o escritório Zanin Martins Advogados. Houve uma fissura familiar que culminou nesse desfecho, o que chegou a ser usado nos bastidores para tentar desgastar a nomeação ao STF. A exploração do caso deu ensejo à organização de uma carta de solidariedade a Zanin assinada por juristas. Entre os signatários, constaram advogados de proa do grupo Prerrogativas, que tinham, ao menos em parte, inclinação pela indicação do ex-secretário-geral do STF Manoel Carlos de Almeida Neto, o preferido de Lewandowski, para a cadeira de ministro.
Para um jurista que se manifestou sob anonimato, a ascensão de Zanin à Corte difere da dos ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, ambos de currículos considerados "invejáveis". A nomeação do até então advogado de Lula se assemelha, avalia, às de Dias Toffoli e André Mendonça.
— Os três não tinham expressão acadêmica, mas adquiriram expressão política. São casos que se alinham. Mesmo sem vida acadêmica significativa, Zanin é preparado — diz um advogado com atuação na Lava-Jato.
Também há avaliações críticas de que o indicado ao STF se mostrou um jurista comum, sem brilho nas suas teses de defesa, mas que se beneficiou da máxima de estar no lugar certo e na hora certa: exatamente quando a Vaza-Jato e o desgaste do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro permitiram uma mudança na maré da política brasileira. No final, o enredo resultou na anulação das condenações de Lula.