O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse esperar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidere pessoalmente a formação da base aliada na Câmara, após o risco de derrota na votação da Medida Provisória (MP) da Esplanada dos Ministérios, aprovada na quarta-feira (31) na Casa após uma ameaça de "rebelião" de deputados do centrão contra o Palácio do Planalto.
— Habilidade ele tem. O presidente Lula foi alertado por mim. E ele hoje é conhecedor de todas as dificuldades que seu governo tem na parte de articulação. E eu espero que tenha servido de ensinamento, para que a partir de hoje, o governo possa encaminhar suas matérias na Casa na construção de uma maioria que ainda não tem. O clima ontem, infelizmente, era um clima voltado para derrotar a MP. O governo Lula peca na confiança — declarou Lira, em entrevista à GloboNews nesta quinta-feira (1º).
O deputado disse que prevaleceu, contudo, a visão de que derrubar a estrutura ministerial do governo seria uma medida "muito dura".
— O governo, sem uma maioria no Parlamento, não pode achar que partidos independentes são obrigados a pautar e votar matérias de interesse de seu governo — afirmou.
Lira ressaltou que se reuniu com os líderes da Câmara na quarta-feira e pediu a aprovação da MP após um apelo feito por Lula, mas ponderou que não poderá mais atuar dessa forma se o Planalto não melhorar a relação com a Câmara.
— Se o governo não fizer maioria, paciência, vai ter que respeitar os resultados — pontuou.
O deputado, contudo, rechaçou a comparação feita nos bastidores entre a relação dele com o Planalto e a disputa entre a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que culminou com o impeachment da petista, em 2016.
— Ninguém pode dizer que atrapalhei o governo — emendou.
Lira disse que é natural o governo oferecer ministérios a partidos para atraí-los à base, já que esse foi o modelo de coalizão escolhida por Lula, mas voltou a negar que tenha pedido o comando de pastas na Esplanada ou a demissão de algum ministro, como Renan Filho, dos Transportes, filho de seu maior adversário político em Alagoas, Renan Calheiros. O presidente da Câmara afirmou que apenas pediu ao governo que agisse para "moderar excessos" de Calheiros, que o acusou de desvio de dinheiro e de bater na ex-mulher.
Lula diz que esperava aprovação da MP
O presidente Lula comentou no final da manhã desta quinta-feira a aprovação da MP da reestruturação dos ministérios, que passou na quarta-feira pelo crivo dos deputados após o governo liberar emendas e cargos para o centrão.
— Esperava aquilo. Era razoável que a Câmara votasse como votou — afirmou a jornalistas no Palácio do Itamaraty, antes de recepcionar o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö.
A MP dos ministérios foi aprovada na Câmara tarde da noite, após Lira decidir com seus aliados dar uma "última chance" para o Planalto reestruturar a articulação política.