O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, negou nesta quarta-feira (17), pedido da Petrobras para explorar petróleo na foz do Rio Amazonas. A questão havia se tornado um cabo de guerra entre os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Com a decisão, Agostinho segue a área técnica do Ibama e dá a vitória a Marina, que chegou a comparar o caso com a polêmica construção da Usina de Belo Monte. Em 2008, ela rompeu com o governo petista por causa da construção da hidrelétrica. Colegas partidários da ministra do Meio Ambiente defenderam a saída dela do governo caso o projeto fosse autorizado.
— Não restam dúvidas de que foram oferecidas todas as oportunidades à Petrobras para sanar pontos críticos de seu projeto, mas que este ainda apresenta inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental — afirma Agostinho, no despacho em que nega a licença ambiental.
O Ibama entende ser necessário retomar ações que competem à área ambiental para assegurar a realização de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS). Na prática, trata-se de um conjunto de estudos que medirá os riscos da atividade petroleira ao ecossistema e definirá se a exploração ali tem viabilidade ambiental.
A equipe técnica do órgão aponta também haver "inconsistências identificadas sucessivamente" e "notória sensibilidade socioambiental da área de influência e da área sujeita ao risco", destacando a necessidade de "avaliações mais amplas e aprofundadas".
Para Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e especialista-sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, Agostinho agiu tecnicamente e de maneira correta. Ela pondera, contudo, que a decisão enseja um debate mais amplo sobre o papel do petróleo no futuro do país.
— O momento é de estabelecer um calendário para a eliminação dos combustíveis fósseis e acelerar a transição justa para os países exportadores de óleo, como o Brasil, e não de abrir uma nova fronteira de exploração — afirma Suely.
— Quem dorme hoje sonhando com a riqueza petroleira tende a acordar amanhã com um ativo encalhado, ou um desastre ecológico, ou ambos.
Mais cedo, também nesta quarta, Marina havia afirmado que o processo de exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas é "muito complexo" e que a última palavra caberia a Agostinho.
— O Ministério do Meio Ambiente não dificulta nem facilita, ele cumpre o que está na lei — disse Marina, em entrevista concedida à GloboNews.
Procurados, o Ministério de Minas e Energia e a Petrobras não se manifestaram.