O general Marco Edson Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do presidente Lula (PT), afirmou nesta sexta-feira (21) que estava retirando extremistas de um setor do Palácio do Planalto, mas não efetuou prisões, porque estava fazendo "gerenciamento de crise". Ele declarou ainda não ter "qualquer responsabilidade" sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. O oficial prestou depoimento na Polícia Federal (PF) ao longo de cinco horas desta manhã, após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
As imagens divulgadas inicialmente pela CNN Brasil mostram Gonçalves Dias circulando no andar do gabinete presidencial e indicando a saída do prédio aos invasores. Os vídeos revelam também agentes do GSI conversando com os extremistas. Um deles, o major José Eduardo Natale, oferece água aos radicais.
Na quarta-feira (19), Gonçalves Dias pediu demissão do cargo de ministro-chefe do GSI. Ele é o primeiro ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a cair em pouco mais de cem dias de mandato.
Segundo o portal g1, no dia da demissão, o ex-ministro disse que estava no Planalto para retirar os invasores de lá. A PF perguntou por que ele não prendeu ninguém.
"Indagado por que, no 3° e 4° pisos, conduziu as pessoas e não efetuou pessoalmente a prisão, respondeu que estava fazendo um gerenciamento de crise e essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no 2° piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo", registrou a PF durante o depoimento.
Gonçalves Dias ressaltou ainda que, sozinho, não teria conseguido prender os extremistas.
"O declarante não tinha condições materiais de, sozinho, efetuar prisão das 3 pessoas ou mais que encontrou no 3° e 4° andares, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado", relatou o general à PF.
O ex-ministro também destacou que, se tivesse visto a cena do major Natale oferecendo água aos extremistas, teria prendido o militar.
"Indagado a respeito de o major José Eduardo Natale de Paula Pereira haver entregue uma garrafa de água a um dos invasores; que deve ser analisado pelas circunstâncias do momento os motivos do major, mas que, se tivesse presenciado, o teria prendido", completou.
Depoimento nesta sexta-feira
G. Dias, como é conhecido, chegou à sede da Polícia Federal, na região central de Brasília, por volta de 8h50min desta sexta-feira, e saiu às 13h30min. Ao determinar pelo depoimento, Moraes apontou que as imagens revelam uma "atuação incompetente das autoridades responsáveis pela segurança interna do Palácio do Planalto, inclusive com a ilícita e conivente omissão de diversos agentes do GSI".
Em nota, o GSI explicou que "as imagens divulgadas mostram a atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos".
O general pediu exoneração do governo no mesmo dia da divulgação das imagens. Na ocasião, Gonçalves Dias conversou com Lula e outros ministros palacianos. O presidente atendeu o pedido.
De acordo com a colunista Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, o governo foi surpreendido com a divulgação das imagens. Isso porque Lula chegou a pedir a G. Dias, segundo relatos de ministros do Planalto, acesso à câmera do circuito interno posicionada para o corredor que dá no gabinete presidencial, no palácio. O então chefe do GSI alegou, contudo, que a câmera estava quebrada e por esse motivo não havia imagens daquele local durante a depredação em 8 de janeiro.
Foi revelado ainda que o governo Lula negou ao menos oito pedidos de acesso às imagens do circuito interno do Planalto no dia dos ataques. Essas solicitações foram protocoladas no âmbito da Lei de Acesso à Informação (LAI). A gestão petista tentou esconder os vídeos por cinco anos, ou seja, até 2028.