O portal g1 divulgou, na tarde desta sexta-feira (10), que uma servidora da Presidência da República relatou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que havia recebido ordens para lançar com antecedência as joias apreendidas antes de elas serem liberadas pela Receita Federal. Essa servidora trabalhava diretamente com o ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Barbosa Cid. As eram destinados à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A servidora teria entregado à PF um áudio que recebeu no dia 29 de dezembro sobre o caso, de uma pessoa que trabalha na coordenação da Ajudância de Ordens da Presidência, chamada tenente Cleiton. Ele teria determinado que os ofícios enviados ao Departamento de Documentação Histórica fossem excluídos do sistema, já que a operação para resgate das joias havia fracassado.
Isso seria uma prova de que o gabinete da Presidência pediu ao departamento o lançamento antecipado das joias, antes mesmo de elas terem sido liberadas, no dia 29 de dezembro, na véspera de Bolsonaro deixar o país rumo aos Estados Unidos.
A equipe do ex-presidente tinha convicção de que a operação seria um sucesso — o que não aconteceu, obrigando o servidor determinar à funcionária a exclusão dos ofícios.
Os documentos sobre as operações de inclusão e exclusão também foram entregues à PF, que investiga a entrada irregular dos presentes da Arábia Saudita dados a Bolsonaro e sua esposa.
O que afirma Jair Bolsonaro sobre o caso?
Em entrevista a jornalistas na saída da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), um dos maiores eventos conservadores dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro afirmou que não pediu, nem recebeu os itens de luxo.
—A legislação diz que poderia usar, mas não se desfazer do bem. Agora eu estou sendo crucificado por um presente que eu não recebi. Alguns jornais disseram que tentei trazer joias ilegais para o Brasil, não existe isso — declarou o ex-presidente na ocasião.
Bolsonaro ainda negou ter enviado um avião da FAB para tentar liberar as joias. No entanto, o jornal O Estado de S. Paulo afirma ter localizado a solicitação à FAB para levar o chefe da Ajudância de Ordens do Presidente da República, primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva. O documento dizia que a viagem de Silva era "para atender a demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade", com retorno "em voo comercial no trecho Guarulhos para Brasília".
Contudo, segundo afirmado em matéria do Estadão, o ex-presidente teria recebido pessoalmente o segundo pacote de joias da Arábia Saudita que chegou ao Brasil. Ao jornal, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, disse que o estojo com as joias está com Bolsonaro. De acordo com a apuração, documentos oficiais comprovam que o pacote foi entregue no Palácio da Alvorada, com um recibo indicando que as joias de diamantes foram recebidas pelo funcionário Rodrigo Carlos do Santos às 15h50min do dia 29 de novembro de 2022. Conforme a publicação, o documento traz um item no qual questiona se o item foi visualizado por Bolsonaro. A resposta seria “sim”.
Na quarta-feira (8), Bolsonaro confirmou em entrevista que parte dos presentes encaminhados pelo príncipe da Arábia Saudita em 2021 foi incorporada ao acervo privado dele. Segundo o ex-presidente, foram enviados um estojo com uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço, e não teria havido "nenhuma ilegalidade" no episódio.
O que afirma Michelle Bolsonaro?
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fez uma postagem afirmando que "não estava sabendo" que tinha "tudo isso", referindo-se às joias de diamantes avaliadas em R$ 16,5 milhões que o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o país.
"Quer dizer que, 'eu tenho tudo isso' e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória", publicou Michelle na noite da última sexta-feira (3) nos stories do Instagram.