O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de "loucura" os valores distribuídos em dividendos para acionistas da Petrobras e defendeu que a empresa use parte do lucro obtido para fazer investimentos.
— É uma loucura o que nós estamos fazendo de dividendos. Petrobras não é um patrimônio apenas das pessoas que são acionistas. A Petrobras tem que fazer investimento. Temos que pensar em Petrobras como empresa, mas também como indústria de papel estratégico para o Brasil — disse Lula em entrevista à Rádio BandNews FM, gravada nesta quinta-feira (2).
A crítica de Lula vem após a Petrobras divulgar, na noite de quarta-feira (1º), que teve lucro de R$ 188,3 bilhões no ano passado, o maior da história. Com o resultado, a empresa pode pagar R$ 215,7 bilhões em dividendos para acionistas, para contrariedade do petista.
— Poderia dar metade em dividendo e metade em investimento. O pessoal que tomou conta da Petrobras resolveu fazer graça com os acionistas minoritários. A Petrobras não é empresa só para ganhar dinheiro e dar para acionista, é para pensar na soberania energética do país — criticou.
Lula ainda negou que pretenda fazer intervenção na estatal, ao criticar o atual modelo de negócios da empresa.
— Não tem intervenção. Tem interesse do povo brasileiro. Eu defendo o Estado brasileiro forte. Não defendo estado interferindo na economia, mas eu quero um estado indutor da economia — pontuou.
O presidente atacou também a privatização da Eletrobras:
— Primeira coisa que o diretor faz é aumentar seus salários, e um conselheiro ganhar R$ 200 mil para participar de uma reunião por mês.
Taxa Selic
Ainda na entrevista concedida ao jornalista Reinaldo Azevedo, voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao exigir uma explicação para o patamar da Selic, a 13,75%, disse que logo pode haver uma crise de crédito no país.
— Qual é a explicação de ter um juros a 13,75% em um país em que a economia não está crescendo? — questionou, dizendo não "ligar muito" para a autonomia ou não do Banco Central, mas que a autoridade monetária tem que ter responsabilidade.
Ao se referir a Campos Neto, ele disse que é um "cidadão, que não foi eleito para nada" e que "acha que tem o poder de decidir as coisas" e ajudar o país:
— Não, você não tem que pensar como ajudar o Brasil, tem que pensar como reduzir a taxa de juros — comentou. — Ele tem que estar preocupado com inflação, emprego e crescimento da economia — continuou o presidente, ressaltando, contudo, que não tem interesse em brigar com o presidente do Banco Central.
Em defesa à queda de juros, ele disse que, na verdade, "apanhou" da Faria Lima, que ganha muito com juros altos.
— Economia brasileira não cresceu no ano passado, apesar da fanfarrice do Guedes — disse, em referência ao ex-ministro da Economia Paulo Guedes.
Conforme informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro registrou queda de 0,2% no quarto trimestre de 2022 ante o terceiro trimestre de 2022. O resultado veio abaixo da mediana (-0,1%) das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde um recuo de 0,9% a uma alta de 0,4%.
Indicação ao STF
Lula também discorreu sobre sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF), e afirmou que levará em conta o caráter da pessoa e seu notório saber jurídico, além do cumprimento da Constituição. De acordo com o chefe do Executivo, caso seu advogado, Cristiano Zanin Martins, seja indicado, a indicação será merecida.
— Não quero escolher um juiz para mim, o juiz é para nação — declarou o presidente. — Nunca pedi nenhum favor a nenhum ministro, não foi indicado para me fazer favor, para me proteger. Os ministros foram indicados para cumprir a Constituição e garantir o processo democrático deste país.
Guerra na Ucrânia
No mesmo dia em que conversou, por meio de uma uma videochamada, com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, Lula voltou a defender a criação de uma espécie de "G20 da paz" para mediar o fim da guerra na Ucrânia e afirmou, à Rádio BandNews FM, que vai levar a ideia para a reunião do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, da qual o Brasil participará em maio, no Japão.
— Você tem que encontrar alguma coisa que justifique retomar a paz. A guerra está influenciando muita coisa, a gente no Brasil está sofrendo por causa dessa guerra. Toda guerra tem um fim, e essa guerra tem que ter um fim. Não precisamos ficar destruindo ponte, prédio, a troco de quê? — questionou.
Para Lula, tanto Rússia quanto Ucrânia estão "pedindo a Deus" pelo fim da guerra. O presidente ainda conclamou que as grandes potências participem das negociações para um acordo de paz. Na visão dele, o presidente da China, Xi Jinping, por exemplo, não pode ficar como "olheiro" do conflito.
— O problema é a Otan? Vamos discutir com europeus e americanos? É a filiação à União Europeia? Vamos discutir. Xi Jinping não pode ser olheiro, tem que ser ator. Pode influenciar na Ucrânia, na Rússia e no debate dos Estados Unidos — cobrou, ponderando, entretanto, que os "russos não tinham direito de invadir a Ucrânia".
Ainda sobre a agenda internacional, o presidente voltou a dizer que o Brasil vai recuperar protagonismo e investimentos externos:
— Eu vou recuperar o prestígio internacional do Brasil, o Brasil vai voltar a ser protagonista internacional outra vez. A gente vai ter mais investimento externo direto no Brasil e a economia vai voltar a crescer.
Fim de mandato
O chefe do Executivo brasileiro disse ainda querer terminar o mandato com a "normalidade recuperada" no país. Ao retomar conquistas feitas pelos governos petistas, ele declarou que provou ser possível aumentar o salário mínimo sem causar inflação.
— Se, ao terminar meu mandato no dia 31 de dezembro de 2026, eu tiver garantido que cada brasileiro esteja tomando café da manhã, almoçando, jantando, trabalhando e as crianças estudando, já terei cumprido outra vez a minha crença com o povo brasileiro — completou.
O presidente fez uma autocrítica e confessou ter cometido "muitos erros", mas reconheceu série de conquistas feitas por ele e pela ex-presidente Dilma Rousseff.