O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil fechou 2022 com um avanço de 2,9%, mas sob um cenário de desaceleração da economia ao longo do ano.
Os números sobre toda a riqueza gerada no país, divulgados nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que o crescimento econômico foi garantido pelos setores de serviços, que se expandiu 4,2%, e da indústria (1,6%), enquanto a agropecuária apresentou recuo de 1,7% no acumulado anual.
— Desses 2,9% de crescimento em 2022, os serviços foram responsáveis por 2,4 pontos percentuais. Além de ser o setor de maior peso, foi o que mais cresceu, o que demonstra como foi alta a sua contribuição — analisa Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
O desempenho resultou em um PIB de R$ 9,9 trilhões, com um valor per capita (total dividido pela população do país) de R$ 46.155 — avanço de 2,2% em termos reais na comparação com o ano anterior.
Economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Juliana Trece avalia que a performance do país no acumulado dos quatro trimestres é positiva, mas deve ser vista com ressalvas.
— O resultado geral é muito bom, levando-se em conta que já tínhamos crescido 5% no ano anterior. Ficou até um pouco acima do que se esperava. Mas o número também esconde um pouco que a nossa economia veio desacelerando ao longo do ano — observa.
Quando se compara o resultado de cada trimestre com os anteriores, essa tendência fica mais clara. O PIB brasileiro começou 2022 com crescimento de 1,3% nos meses de janeiro, fevereiro e março em comparação com o último período do ano anterior. Nos trimestres seguintes, porém, essa variação foi caindo progressivamente: avançou 0,9% no segundo trimestre, em relação ao primeiro; 0,3% no terceiro; e chegou ao quarto trimestre com um ligeiro declínio de -0,2% na comparação com o anterior.
Entre as explicações para o cenário do final do ano estão um recuo no setor industrial (variação de -0,3% sobre o terceiro trimestre) e de -1,1% na formação bruta de capital fixo — referência a investimentos feitos pelas empresas em bens voltados à produção, como máquinas, equipamentos e materiais de construção. Apesar da queda no último trimestre de 2022, o indicador de capital fixo registrou desempenho positivo no acumulado anual, com avanço de 0,9% sobre 2021.
Na avaliação do IBGE, a queda registrada pela agropecuária no ano passado foi provocada pelo "decréscimo de produção e perda de produtividade da agricultura", que acabou obscurecendo contribuições positivas dos setores de pecuária e pesca. Na indústria, o destaque foi o setor de eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos, que saltou 10,1% devido a fatores como bandeiras tarifárias mais favoráveis. A construção (6,9%) também teve acréscimo.
Já nos serviços, destaque do PIB, todas as atividades apresentaram crescimento. Transporte, armazenagem e correio avançaram 8,4%, por exemplo, enquanto o item "outras atividades" teve resultado de 11,1%.
Na análise das despesas, além da alta de 0,9% da formação capital fixo — que cresceu pelo segundo ano consecutivo —, o consumo das famílias avançou 4,3% em relação ao ano anterior, e o consumo do governo teve acréscimo de 1,5%. No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 5,5%.