Um dos políticos petistas e amigo mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, atual secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, afirmou nesta quarta-feira (25), em Porto Alegre, que o governo federal não deseja conflito, mas irá chamar as empresas de serviços por aplicativo para discutir direitos aos trabalhadores.
Carvalho diz que uma parcela desses profissionais de diferentes modais, como carros e motocicletas, está se agrupando em pequenas cooperativas de aplicativos. Para esses, a intenção é estimular a aquisição de tecnologias e organização. Ele reconheceu, contudo, que a maioria continuará prestando serviço para grandes empresas de transporte de passageiros e entrega de encomendas, entre outros.
— Queremos regulamentar a atividade econômica dessas multinacionais que estão aqui ganhando muito dinheiro. Esse dinheiro vai para fora. Não queremos guerra, mas queremos discutir com as empresas e com os trabalhadores formas de assegurar direitos mínimos. Por exemplo, a segurança pessoal, a jornada e a discussão dos ganhos — afirmou Carvalho.
Ele disse que o governo tem consciência de que as novas atividades “não cabem na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e no velho modelo de sindicalismo”, mas defendeu um marco regulatório que traga algum grau de “vida decente”.
As declarações foram feitas em entrevista, no Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa, antes da participação do secretário no debate Economia Solidária: Tecendo Redes, Transformando Realidades, Reconstruindo o Brasil, evento que integra a programação da edição de 2023 do Fórum Social Mundial.
Ele reconheceu as restrições orçamentárias da Secretaria de Economia Solidária, mas apontou caminhos alternativos citando parcerias “já acertadas” com Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para fomentar o setor.
Durante o debate, que levou o Teatro Dante Barone a quase esgotar a lotação de cerca de 600 pessoas, apresentaram experiências de economia solidária os palestrantes Joaquim Mello, Alvir Longhi e Itanajara Almeida. O case apresentado por Mello versou sobre uma rede de bancos comunitários que atua com moedas sociais, lastreadas no Real, para fomentar iniciativas empreendedoras em comunidades por fora do sistema financeiro tradicional. Ele afirmou que os bancos comunitários precisam de um marco regulatório para assegurar a emissão de moedas sociais, refutando alegações de irregularidades que ocorreram no passado.
Longhi apresentou iniciativa voltada ao beneficiamento de frutas nativas e destacou os desafios de ampliar as possibilidades de comercialização. Itanajara apontou a economia solidária como alternativa importante para mulheres que chefiam lares com filhos. Ela destacou a necessidade de políticas públicas para a oferta de capital de giro e aquisição de equipamentos.
Carvalho cita “disputa política e ideológica”
Na sua manifestação de 25 minutos na mesa, Carvalho, que foi chefe de gabinete de Lula nos dois primeiros mandatos e ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência de Dilma Rousseff, falou sobre o crescimento da direita radical no Brasil e mencionou a necessidade de fazer a disputa política a partir das entregas do governo federal. Diante de uma plateia de movimentos sociais e sindicais, redutos da esquerda, ele afirmou que o “fascismo não foi um fenômeno eleitoral”, mas que “veio para ficar”. O secretário avaliou que, sem “trazer de volta setores da sociedade”, a eleição de 2026 poderá representar um revés.
— Não queremos mais fazer um Minha Casa, Minha Vida em que as pessoas sejam chamadas por uma prefeitura na última hora, sem saber o que significa aquele investimento. E a própria inauguração seja faturada pelo prefeito ou pelo governador local, muitas vezes inimigos do nosso projeto. Queremos construir projetos em que os movimentos sociais estejam envolvidos e funcionem como fermento na massa, (...) ganhando para o nosso projeto aquelas consciências — afirmou Carvalho.
Ele completou ao afirmar: — Não queremos mais jovens que recebam o ProUni e vão estudar numa universidade particular e, amanhã, se tornem novos pequenos burgueses de uma classe média que tem nojo dos pobres. (...) Vão para cima, ocupem seu espaço, pressionem e façam trabalho de base real, sobretudo com os excluídos.
Antes da mesa de debate, em entrevista, ele considerou que os atos golpistas de 8 de janeiro merecem reflexão por terem encontrado acolhida entre trabalhadores comuns que não fazem parte de nenhuma elite econômica. Ele citou o caso do bolsonarista Antônio Cláudio Alves Ferreira, de Catalão, em Goiás, preso por destruir um relógio trazido ao Brasil por Dom João VI na invasão ao Palácio do Planalto.
— Quando um mecânico sai de Catalão, funcionário de uma oficina, e vai a Brasília fazer aquele terrirismo, ele é um trabalhador. O que se passa na cabeça desse trabalhador é o que tem de ser perguntado por nós — analisou Carvalho.
Ele disse que a exclusão é campo fértil para “esse tipo de ideologia” e que o governo se empenhará em reconstruir a cidadania e ambiente de oportunidades.
Por outro lado, o petista considerou que qualquer insubordinação real nas Forças Armadas está fora de cogitação, sobretudo após a troca no comando do Exército determinada por Lula.