Pela terceira vez em sua trajetória política, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o parlatório da Praça dos Três Poderes, no final de uma tarde quente e ensolarada em Brasília, neste domingo (1º), para se dirigir ao país como presidente da República recém-empossado.
Diante de uma multidão de apoiadores, vestidos em tons de vermelho e com bandeiras do Brasil nas mãos, Lula focou seu discurso na importância de pacificar a sociedade brasileira, combater a fome e as desigualdades. Garantiu que sua gestão pretende superar a violenta polarização política que se intensificou ao longo da campanha e dividiu o país em bolsonaristas e lulistas.
Antes de começar o discurso, o presidente fez questão de fazer referência aos 580 dias em que esteve preso em Curitiba. Naquele período, todos os dias, ouvia um “bom dia” entoado por apoiadores acampados junto ao prédio da Polícia Federal em que se encontrava encarcerado. Com a faixa presidencial no peito, devolveu o cumprimento:
— Boa tarde, povo brasileiro.
Em seguida, diferentemente da manifestação feita no Congresso pouco tempo antes, quando se concentrou em atacar a gestão de Jair Bolsonaro, se esforçou para cicatrizar as feridas políticas do país e apaziguar a sociedade de Norte a Sul.
— Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para quem votou em mim. Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor do passado — prometeu.
Em seguida, observou a necessidade de que a população reconstrua “laços” rompidos por conta das divergências políticas:
— A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria.
O presidente, que já havia se emocionado ao receber a faixa verde-amarela de um grupo de cidadãos após subir a rampa, voltou a chorar ao falar no parlatório sobre a fome que aflige grande parte da população:
— Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna.
Ao lado da mulher, Janja, do vice Geraldo Alckmin e da mulher dele, Lu Alckmin, Lula observou que, hoje, no Brasil, apenas 5% da população no topo da pirâmide social detêm a mesma fatia de renda dos 95% restantes. Enfatizou, ainda, a necessidade de sanar injustiças relacionadas a gênero ou raça - razões às quais atribuiu a criação dos ministérios da Igualdade Racial e das Mulheres.
Também recordou iniciativas de suas gestões anteriores, como o combate à fome e a promoção do desenvolvimento econômico, e rechaçou temores de irresponsabilidade fiscal:
— Nos nossos governos, nunca houve nem haverá gastança alguma. Sempre investimos, e voltaremos a investir, em nosso bem mais precioso: o povo brasileiro.
Ainda que tenha procurado fazer um discurso mais conciliador, voltou a fazer críticas à situação em que a gestão de Bolsonaro deixou o país.
— O que o povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um genocídio. Vivemos um dos piores períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim — declarou o novo ocupante do Palácio do Planalto.
Ao final do pronunciamento, Lula passou a receber os cumprimentos de representantes de delegações internacionais. Na sequência, seriam empossados os novos ministros do governo.