O governo do RS busca entender as falhas de articulação política que resultaram na rejeição do projeto que destinaria R$ 500 milhões para obras em rodovias federais. Embora contabilizasse votos suficientes à aprovação da medida, o texto acabou derrotado com voto de minerva dado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Valdeci de Oliveira (PT).
Nos bastidores, o revés foi creditado à inexperiência do novo líder do governo na Casa, Mateus Wesp (PSDB). Deputado em primeiro mandato e conduzindo uma votação que dividiu a base governista, Wesp deu declarações públicas assegurando que o governo já tinha votos suficientes para aprovar a iniciativa. A segurança exacerbada do líder do governo teria levado parlamentares aliados a se sentirem liberados para votar contra.
Foi o caso, por exemplo, das deputadas Silvana Covatti (PP) e Fran Somensi (Republicanos). As duas haviam afiançado ao governo posição favorável, mas acabaram votando contra o projeto. Outra defecção foi a deputada Kelly Moraes (PL), que não compareceu à sessão para conhecer a neta, nascida prematura em Santa Cruz do Sul.
Nas planilhas do governo, os três votos conferiam maioria de 28 deputados num plenário composto por 55 parlamentares. Todavia, quando a votação se encerrou e o painel eletrônico exibiu placar de 25 a 25, a confiança do governo se esvaiu. Como pelo regimento interno o empate obriga manifestação do presidente da Casa e a posição contrária de Valdeci já era de conhecimento das bancadas, estava sacramentada a derrota: 26 a 25. Ao final da votação, o resultado foi comemorado por aliados e opositores do governo, como Sergio Turra (PP) e Luiz Fernando Mainardi (PT).
— Ganhamos — vibrou Turra, cumprimentando o petista na saída do plenário.
Apresentada em março, a ideia de transferir R$ 491 milhões em recursos do Estado para obras nas BRs 116 e 290 sempre enfrentou forte resistência na Assembleia. A matéria chegou a entrar na ordem do dia para votação em maio, mas acabou retirada pelo governo diante do temor de uma derrota. Nos dois meses seguintes, as conversas avançaram, mas o Palácio Piratini ainda tinha dificuldades em obter maioria.
Bancadas
Entre as maiores bancadas, apenas o PSDB votou de forma unânime com o governo. No MDB, quatro dos oito deputados votaram contra, e Gabriel Souza, pré-candidato a governador, se absteve para não desagradar nenhuma ala do partido, dividida entre a candidatura própria e o apoio à reeleição de Eduardo Leite. No PP, além de Turra, desde o início frontalmente contra o projeto, a única defecção foi Silvana Covatti, ex-secretária da Agricultura da atual gestão. Tão logo a votação se encerrou, o governador Ranolfo Vieira Júnior pediu uma cópia da planilha com o posicionamento de cada deputado, para verificar quem na base aliada havia votado contra o governo.
Na Assembleia e no Piratini, a condução de Wesp recebeu mais reparos sobretudo porque foi comparada às articulações anteriormente comandadas por Frederico Antunes (PP). À frente da liderança do governo até junho, Antunes aprovou todos os 242 projetos do Executivo levados à votação. Quando pressentia derrota, recuava, seja desistindo da proposta, como no caso da reforma tributária, ou exaurindo as negociações até obter placar favorável. Um erro atribuído a Wesp na votação de terça-feira foi deixar Silvana Covatti e Fran Somensi votarem contra. Se ambas tivessem se ausentado do plenário, como fez Gabriel, o governo teria vencido.