Beto Albuquerque voltou vivo da reunião da comissão nacional eleitoral do PSB, realizada na segunda-feira (27) à noite, em Brasília. Ele teve a pré-candidatura ao Palácio Piratini reafirmada, autorização para buscar alianças com outros partidos além da federação encabeçada pelo PT e, ao menos por ora, foi cessada a ameaça de corte do acesso ao fundo eleitoral. Esse alerta chegou a ser feito pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, quando Beto buscava aproximação com o PDT para ser palanque do presidenciável Ciro Gomes no Rio Grande do Sul.
O fato reorganiza forças na busca da unidade da esquerda no Rio Grande do Sul, sustentando a chapa presidencial de Lula (PT) e Alckmin (PSB). Seguem posicionadas e irredutíveis as pré-candidaturas de Beto e de Edegar Pretto (PT) ao Palácio Piratini. Uma reunião de retomada do diálogo entre a federação PT-PC do B-PV e PSB ocorreu em 15 de junho, mas o segundo encontro ficou na promessa e o debate foi novamente interditado. Agora, com a reafirmação de Beto, voltaram as avaliações de que é necessário esgotar o diálogo.
— O nosso candidato é o Edegar, estamos na federação com o nome dele. Mas temos opinião e independência e queremos seguir trabalhando pela unidade. Se a unidade não sair, dificilmente vamos estar no segundo turno. Precisamos seguir o exemplo nacional de Lula e Alckmin. Todas as candidaturas são legítimas, mas temos de botar o dedo na consciência e ver o que está em jogo — diz Juliano Roso, presidente estadual do PCdoB, citando a possibilidade de um segundo turno entre o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) e o deputado federal Onyx Lorenzoni (PL).
Apesar das dificuldades entre PT e PSB, Roso acredita que ainda há espaço para o debate. A possibilidade de uma intervenção nacional diante do impasse é vista com receio. Cogita-se, sobretudo no PSB, que a eventual retirada da candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo em favor de Fernando Haddad (PT) poderia gerar a necessidade de retribuição petista no Rio Grande do Sul.
— Temos de esgotar o diálogo aqui. E não está esgotado. Podemos criar critérios para a definição da chapa. Intervenção nacional não é saudável. Temos de sentar e pactuar. Eu e o PCdoB temos essa disposição — avalia Roso.
No PT, fontes ouvidas pela reportagem asseguram que o debate será retomado com o PSB, mas descartam qualquer hipótese de a pré-candidatura de Pretto ser retirada. Dirigentes petistas admitem que já houve receio de uma intervenção nacional em favor do PSB, mas asseguram que, atualmente, isso está descartado. A afirmação é feita porque, no dia 22 de junho, o grupo de trabalho eleitoral nacional do PT se reuniu e teria batido o martelo pela manutenção de Pretto no páreo. A presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, estava no encontro em que o tema foi abordado.
— Foi repassada a situação Estado por Estado. Quando chegou no Rio Grande do Sul, deu-se por encerrada a discussão. O Edegar é candidato a governador. Foi definido pela direção nacional. Hoje, é certo que o PT terá nove candidatos a governador e sete ao Senado. Na maior parte do Brasil, iremos apoiar candidatos de outros partidos — diz um dirigente petista, sob anonimato.
Sobre a eventual desistência de França em São Paulo reverter o jogo, ele considerou a hipótese “carta fora do baralho”. A reportagem tentou contato com o secretário-geral do PT, Carlos Pestana, mas não houve retorno.
O PV, que faz parte da federação junto com o PT e o PCdoB, é outro a manter discurso de crença no acordo, apesar de todos os sinais contrários. A legenda apoia a ideia de que sejam definidos critérios para escolher um candidato único, solução que chegou a ser discutida na reunião entre os partidos em meados de junho.
— Não desistimos da unidade. Para avançar nessa discussão, temos de elaborar os critérios. Eles precisam ser nítidos e ter a concordância de todos. Podem ser posicionamento nas pesquisas, estrutura partidária, apoios de outras legendas, além de outros subjetivos — afirma Marcio Souza, presidente estadual do PV.