A pré-candidatura de Beto Albuquerque (PSB) ao Palácio Piratini recuperou envergadura na noite de segunda-feira (27), em Brasília, com a autorização da comissão nacional eleitoral da sigla para que seja buscada uma aliança com partidos que estejam fora da federação PT-PCdoB-PV, desde que estejam na oposição ao presidente Jair Bolsonaro.
O gesto é simbólico no sentido de sustentar a pré-candidatura porque, no início de junho, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, havia ameaçado cortar o acesso do diretório gaúcho ao fundo eleitoral caso Beto insistisse nas conversas com o PDT para ser palanque regional do presidenciável Ciro Gomes.
Beto tem buscado essa alternativa de aliança diante da dificuldade de composição com a federação liderada pelo PT, que não abre mão de lançar o deputado estadual Edegar Pretto (PT) ao governo estadual. Sem acordo e com duas candidaturas postas, o palanque único da esquerda no Rio Grande do Sul, pedido pelo ex-presidente Lula, permanece distante de ser concretizado. No momento, Beto está com a candidatura reafirmada, com a garantia de que terá estrutura e recursos partidários. O impasse regional entre PT e PSB vem brecando a tentativa de replicar a aliança nacional entre as legendas.
— O que foi decidido é que sou candidato a governador. Qualquer outra possibilidade não existe. As pressões para prejudicar minha candidatura, vindas de todos os lados, ruíram. Ainda tenho convicção que podemos nos juntar, mas, se não for possível, o PSB certamente vai construir um palanque e viabilizar nossa candidatura, contando com outros partidos — diz Beto, citando conversas com PDT, PSD e Avante.
O PSB gaúcho levou para a reunião nacional uma moção pedindo tratamento diferenciado no Rio Grande do Sul, com permissão para coligar com outros partidos além da federação encabeçada pelo PT.
— Não deixaremos de ter Lula e (Geraldo) Alckmin como candidatos à Presidência, somos parte da chapa nacional. A comissão eleitoral foi sensível ao pleito e deu aval para que possamos conversar com a federação, mas, se não for frutífero, podemos dialogar com outras forças políticas que não estejam na base do governo Bolsonaro — comenta Mário Bruck, presidente estadual do PSB.
Apesar de manter a porta aberta para a composição com o PT, Bruck admite que há dificuldades. Depois de o diálogo entre as forças ser interrompido, houve uma reunião de retomada em 15 de junho, após apelos públicos de Lula pela unidade. Naquela primeira reunião, todos saíram com impressão de que seria possível buscar acordo. Porém, um segundo encontro, que deveria ocorrer dias depois, sequer aconteceu e houve nova interdição do debate.
— Foi um fato que nos estranhou. Ficou encaminhado que sentaríamos novamente para discutir um perfil, sem candidatura imposta na mesa, mas parece que não foi essa a real intenção. Não houve a segunda reunião e o PT seguiu trabalhando o nome do Edegar. O PT não parece ter intenção de unidade da esquerda. A gente respeita, é um partido de tradição e tem direito. E nós temos o direito de construir nossa candidatura, que tem mais história, mais experiência e mais capacidade de alargar no segundo turno, coisa que o candidato do PT não tem — avalia Bruck.
Ele ainda disse que, caso não haja apoio do PT, o PSB regional manterá a decisão de lançar a candidatura de Beto. Outro ponto destacado por Bruck é o fato de existirem pelo menos três palanques estaduais com impasse entre PT e PSB: São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
No Estado paulista, maior colégio eleitoral do país, existe a possibilidade de Márcio França (PSB) retirar a pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes para concorrer ao Senado na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT).
— Dependendo do que acontecer em São Paulo, pode repercutir aqui. Ainda tem espaço para conversa. Caso o França opte por disputar outro cargo, pode gerar a necessidade de um gesto aqui no Rio Grande do Sul — pondera Bruck.
Nos bastidores, discute-se a hipótese de o PSB segurar até o último instante a candidatura de França e, ao eventualmente ceder, apresentar uma fatura que envolveria o apoio do PT a Beto no Rio Grande do Sul. Isso seria tratado entre direções nacionais e traria o risco de uma intervenção no diretório gaúcho petista.
— Eu, sinceramente, não desejaria qualquer decisão de cima para baixo. Nossos partidos são maduros e, se desejarem construir solução única, podem fazê-lo. Se a gente não definir um critério sobre quem reúne mais condições de vencer, aí fica difícil. A minha candidatura é a que melhor pode fazer enfrentamento para vencer, com bom diálogo ao centro. A esquerda, sozinha, não vai a lugar algum — opina Beto.