O ex-presidente e pré-candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira (23) a gestão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (22).
— Aquela reunião dele distribuindo dinheiro para pastor é uma vergonha nacional — disse Lula durante entrevista à Rádio Difusora, de Manaus (AM).
Sobre as suspeitas que levaram à prisão de Ribeiro e dos pastores que atuaram com o Ministério da Educação (MEC), o petista preferiu a cautela.
O ex-presidente, que durante o dia da operação contra os pastores não se pronunciou sobre o caso, afirmou agora que "defende o direito de defesa para todo mundo" e que considera esse um valor "monumental da democracia" no Brasil.
— A Justiça decide se vai prender ou não — disse. — Mas que ele foi mal ministro da Educação, foi.
Lula era o único dos presidenciáveis que não havia comentado a prisão.
Ribeiro foi preso na manhã de quarta-feira (22), no âmbito da investigação sobre o "gabinete paralelo" no MEC, usado para favorecer pastores na distribuição de verbas da pasta. O esquema foi revelado pelo Estadão em março. Ao todo, foi decretada a detenção preventiva de cinco pessoas, incluindo os pastores Arilton Moura e Gilmar dos Santos, pivôs do caso.
No entanto, nesta quinta-feira, a prisão foi revogada por determinação do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Ney deferiu liminar a favor de Milton Ribeiro e também dos outros quatro presos suspeitos, entre eles os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. A defesa do ex-ministro havia ingressado com pedido de habeas corpus junto ao tribunal.
Sem possuir vínculos com o setor de ensino ou cargo público, um grupo de pastores, ligados a Milton Ribeiro e comandado pela dupla Arilton Moura e Gilmar dos Santos, passou a comandar a agenda do ministro da Educação e interferir na liberação de verbas, além de influenciar diretamente ações da pasta. Os pastores são próximos da família Bolsonaro e estiveram no Palácio do Planalto em diversos eventos públicos e reuniões fechadas.
À época da revelação do escândalo, o presidente Jair Bolsonaro reagiu afirmando que colocaria a "cara no fogo" por Ribeiro. Após anúncio da prisão do ex-ministro, o presidente mudou o tom e destacou que "a Polícia Federal tem autonomia" para investigar suspeitas.
— Ele que responda pelos atos dele. Eu peço a Deus que não tenha problema nenhum. Mas, se tem algum problema, a PF está agindo, está investigando — disse Bolsonaro.
Outros pré-candidatos à Presidência e, inclusive, integrantes do PT, reagiram imediatamente à prisão de Milton Ribeiro com manifestações de indignação, declarações irônicas sobre as falas contraditórias do presidente Jair Bolsonaro e críticas à gestão do MEC em publicações nas redes sociais.
Direito de defesa
Lula readquiriu o direito de ser candidato nas eleições de 2022 depois da anulação de condenação judicial na operação Lava-Jato, determinada pelo ex-juiz Sérgio Moro. Em 2018, enquanto estava preso pelo caso do tríplex do Guarujá, o ex-presidente chegou a ser anunciado como pré-candidato do PT à Presidência mas, devido às regras da Justiça Eleitoral, foi substituído na disputa por Fernando Haddad (PT).