Na véspera da votação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro acelerou a liberação de dinheiro aos parlamentares. Desde a semana passada, quando o texto chegou ao plenário da Casa, o governo empenhou R$ 1,2 bilhão das chamadas emendas de relator-geral, o mecanismo do "orçamento secreto", segundo revela o Estadão.
O valor oferecido por interlocutores do Palácio do Planalto pelo voto de cada parlamentar teria sido de até R$ 15 milhões. Quem coordenou as negociações foi o próprio presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL).
A proposta foi aprovada em primeiro turno na madrugada de quinta-feira (4) com uma margem estreita — 312 a 144, apenas quatro votos acima dos 308 necessários. Alguns partidos de oposição e que pretendem lançar candidatos contra Bolsonaro nas próximas eleições se dividiram, como o PSDB, o PDT, o MDB e o Podemos. Parlamentares dessas siglas, que já haviam sido contemplados com recursos do "orçamento secreto", deram 52 votos a favor da medida e ajudaram na vitória do governo.
— Colegas nossos de bancada comentaram que era esse valor, de R$ 15 milhões (para quem votasse a favor da PEC) — afirmou o deputado Celso Maldaner (MDB-SC) ao Estadão.
Maldaner votou contra e disse não ter recebido nada. Questionado sobre como soube da oferta, o deputado disse ter ouvido o "comentário de um colega de partido, vice-líder de governo, que falou que os vice-líderes estiveram reunidos e falaram nesses números".
Também do MDB, Hildo Rocha (MA), relatou conversas sobre a troca de votos por emendas. Segundo o deputado, o rumor no Plenário da Câmara, na noite da votação, era a de que o governo tentou usar o PDT como "chamariz" para os outros partidos de esquerda. Se os pedetistas votassem a favor da PEC, congressistas em outros partidos de esquerda também se sentiriam autorizados a fazer o mesmo.
— Quando os deputados do PDT começaram a votar com o governo nos requerimentos do "kit obstrução", muita gente no Plenário avaliou que então de fato, o governo tinha conseguido conquistar o PDT à base de R$ 200 milhões em emendas de relator — disse ele.