Os diversos sistemas de monitoramento do governo federal e das polícias estaduais identificaram pelo menos 24 empresas que endossaram a paralisação dos caminhoneiros, deflagrada dia 8 e que ainda tem reflexos pelo país – como o desabastecimento de combustíveis em algumas capitais. As polícias civis e militares, agentes da PF e PRF e da Agência Brasileira de Informações (Abin) já sabem que, entre os apoiadores do movimento paredista estão transportadoras, revendas de veículos e de maquinário agrícola e representantes do agronegócio.
Isso foi detectado de forma simples, pela visualização dos caminhões que promoveram bloqueios em 14 Estados. A maioria deles não estava identificada, mas alguns são de empresas ou fretados por elas. A ajuda de empresários do setor rural na paralisação dos transportadores já era mencionada em inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre atos antidemocráticos previstos para o 7 de setembro e dias posteriores. Tanto que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, determinou busca e apreensão de documentos e bloqueio de contas bancárias da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) e seu presidente, Antônio Galvan.
A entidade é suspeita de financiar a mobilização dos caminhoneiros, “por meio de fundos compostos por recursos públicos, como o Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), do estado do Mato Grosso. As manifestações acabaram acontecendo e foram puxadas por Marco Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, um catarinense de Joinville que se intitula líder dos transportadores autônomos. Ele está com ordem de prisão preventiva decretada pelo STF e escondido no México, de onde manda vídeos de estímulo à paralisação.
O monitoramento dos caminhões começou ainda nos desfiles de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, em 7 de setembro, e persistiu quando a paralisação dos transportadores de cargas foi deflagrada, na madrugada seguinte. Entre os veículos identificados estão alguns pertencentes a empresas de Mato Grosso, Goiás e Santa Catarina. Não há notícia de empresas do Rio Grande do Sul investigadas.
Apoiar ou mesmo financiar atos políticos à beira da estrada é crime? A reportagem consultou policiais federais. Não, afirmam eles, desde que não resulte em bloqueio da estrada. Aconteceram pelo menos 15 bloqueios no primeiro dia de paralisação. Um dos desafios é comprovar que essas barreiras feitas pelos manifestantes eram integradas ou financiadas pelas empresas. Isso poderia configurar crime contra a ordem econômica ou locaute (quando o empresário faz uma espécie de greve). Como os bloqueios diminuíram bastante após 24 horas, dificilmente será comprovado.
O inquérito poderia crescer de importância se ficar provado que os empresários, por meio de grupos de mensagens (como WhatsApp ou Telegram), financiaram a paralisação ou prometeram vantagens a quem parasse. Foi justamente por isso que foram apreendidos computadores de sojicultores e motoristas de caminhão nas ações judiciais que investigam possível financiamento de atos antidemocráticos. Até o momento não foi informado o resultado das buscas.