O núcleo da CPI da Covid que investiga a disseminação de fake news sobre o enfrentamento à pandemia avança e deve pedir, nesta semana, a quebra de sigilo bancário de ao menos oito sites que propagaram conteúdos falsos. Desde segunda-feira (2), o grupo conta com o auxílio do delegado da Polícia Federal (PF) Carlos Eduardo Miguel Sobral, especialista em crimes cibernéticos.
Após 15 dias de recesso, a CPI retoma os trabalhos nesta terça-feira (3), quando também retoma a apuração sobre intermediários na venda de supostas vacinas contra a covid-19. A comissão convocou o reverendo Amilton Gomes de Paula. Ele é presidente de uma empresa chamada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), com sede em Águas Claras (DF), e tentou negociar doses da AstraZeneca com o Ministério da Saúde.
Na quarta-feira (4), os senadores ouvem o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde, exonerado da pasta em 19 de janeiro. Áudios em posse da CPI mostram o coronel orientando Cristiano Alberto Hossri Carvalho, representante da Davati Medical Supply, a acessar o Departamento de Logística e negociar supostas 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca.
Já para quinta-feira (5) está marcado o depoimento do ex-assessor do ministério, Airton Antonio Soligo, nomeado em 23 de junho do ano passado pelo ex-ministro Eduardo Pazuello. Ele foi exonerado em 24 de março, um dia depois da saída de Pazuello.
Requerimentos
A pauta da comissão para esta terça tem mais de 130 requerimentos para análise. O item número um é a proposta do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de afastamento de Mayra Pinheiro da secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, do Ministério da Saúde.
Em entrevista à rádio Eldorado, na segunda-feira (2), o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), cobrou do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a demissão de Mayra do cargo.
A secretária é entusiasta do suposto tratamento precoce contra a covid, composto por medicamentos contraindicados para a doença, como cloroquina e ivermectina. O "kit covid" tem como incentivador o presidente Jair Bolsonaro.
Negacionismo
O núcleo de senadores que apura o negacionismo na pandemia catalogou as principais fake news da covid e identificou, na semana passada, sites, pessoas físicas, influenciadores e políticos que disseminaram conteúdo falso.
— A desinformação e as campanhas negacionistas também mataram brasileiros. Pessoas físicas, influenciadores e sites criados apenas para disseminar fake news e atacar adversários do governo foram aliados do vírus e agravaram o morticínio — afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), um dos senadores que lideram a investigação sobre fake news.
— A CPI tem o compromisso de investigar e cobrar as responsabilidades. E é isso que vamos fazer — disse.
A CPI da Covid já identificou de que forma as fake news disparadas durante a pandemia se estruturaram. Os senadores descobriram que as mentiras eram produzidas para induzir as pessoas a acreditarem no suposto tratamento precoce.
As mensagens falsas seriam disparadas de duas formas, simultaneamente. Há um conteúdo que ataca a vacina, o uso de máscara e o distanciamento social, e outro que dissemina o suposto tratamento precoce com dados falsos e pesquisas distorcidas. A CPI suspeita que robôs tenham sido usados para estimular a disseminação das mensagens.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirma que os parlamentares aguardam uma confirmação técnica sobre o assunto.
— A priori, sim, você teve a mistura bem típica da desinformação, que utiliza perfis que são operados por seres humanos e impulsiona, dá volume, com robôs — disse.
A investigação dos senadores já identificou ao menos 76 perfis, em redes sociais como Instagram e Twitter, que se dedicavam a propagar notícias enganosas. A CPI também deve pedir às plataformas que revelem quem são as pessoas por trás dos perfis. A apuração pretende também identificar pessoas, inclusive do governo federal, "que tiveram papel efetivo na desinformação dos brasileiros", e responsabilizá-los no relatório final.