Pressionado por denúncias de corrupção no governo e pelo pedido de impeachment protocolado na quarta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro participou, nesta quinta-feira (1°), de uma missa com parlamentares e seus familiares em Brasília. Bolsonaro assistiu à celebração ao lado da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), autora da chamada PEC do Voto Impresso, e, pouco antes do evento, repetiu que, se a impressão do voto não for adotada, "vamos ter problemas no ano que vem".
Antes de comparecer à missa, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro retomou o tom de ameaça que adotou no início do ano, ao comentar a invasão do Capitólio por ativistas ligados ao ex-presidente Donald Trump, que resistia à posse de Joe Biden sob o argumento de que houve fraude no processo eleitoral.
Sem mencionar nomes, o presidente também reclamou de três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que estariam empenhados numa articulação para barrar a impressão do voto. De acordo com Bolsonaro, caso o voto impresso não seja implementado no pleito de 2022, "eles (os ministros) vão ter de apresentar uma maneira de ter eleições limpas".
— Dinheiro tem, já está arranjado o dinheiro para as eleições, para comprar impressoras — insistiu Bolsonaro.
No último fim de semana, presidentes de 11 partidos se reuniram e fecharam posicionamento contra o voto impresso nas eleições de 2022. Os caciques das legendas, incluindo os da base do presidente Bolsonaro no Congresso, decidiram derrubar a proposta discutida na Câmara e patrocinada pelo chefe do Planalto.
Conforme a reportagem apurou, os ministros Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, atuaram para demover os partidos da ideia de aprovar o voto impresso. Moraes assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no período das eleições presidenciais e Barroso é o atual chefe da corte eleitoral.
A reviravolta ocorre no momento em que Bolsonaro é alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera pesquisas de intenção de voto para o próximo ano.
O Estadão revelou no início do mês passado que a PEC tinha votos suficientes para avançar na comissão especial da Câmara. A articulação, porém, enfrentou resistência e agora os partidos prometem se movimentar pela rejeição da PEC com os deputados, ou até mesmo engavetá-la. Os 11 partidos contrários ao projeto representam 326 deputados entre os 513 integrantes da Câmara, número suficiente para derrubar a medida.
A missa não estava prevista na agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro e contou ainda com a presença de outros parlamentares aliados, entre eles os deputados Evair de Mello (PL-MG), Eros Biondini (PROS-MG), General Peternelli (PSL-SP), Sanderson (PSL-RS), Diego Garcia (Podemos-PR) e General Girão (PSL-RN).