Um dia após leitura de parecer favorável à adoção do voto impresso e pela apuração dos resultados das eleições feita pelo papel, em comissão especial sobre o tema na Câmara dos Deputados, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, voltou a defender a lisura da urna eletrônica — usada no Brasil desde 1996. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (29), o ministro reafirmou que nunca foi comprovada fraude no sistema em 25 anos.
— O voto impresso vai nos trazer muitos riscos e ameaças para resolver um problema que não existe — afirmou.
Segundo Barroso, a urna eletrônica surgiu para superar um "histórico de fraudes que tínhamos desde o tempo do Império". Ainda conforme o ministro, não se pode "deslegitimar as eleições brasileiras por um discurso de quem não aceita perder".
Além do alto custo — estimado em R$ 2 bilhões, de acordo com Barroso —, o ministro diz que o sistema impresso abriria brecha para outros problemas, como a dificuldade na recontagem e no transporte dos votos físicos. Ele alerta ainda para o risco de judicialização das eleições.
— Há um paradoxo em quem pede o voto impresso. Quem vai imprimir o voto impresso? É a urna eletrônica. Portanto, se tiver fraude no voto eletrônico, tem fraude no voto impresso também. Mas não acontece. O problema do voto impresso é que, na contagem manual, nós vamos voltar aos problemas que sempre tivemos (antes de 1996).
Barroso também comentou sobre o que chamou de "complexo de vira-lata" do brasileiro, que fica evidente nas comparações feitas com relação ao sistema eleitoral de outros países.
— Alguém dirá: "Não, mas na Alemanha não tem (voto eletrônico)". É verdade. Só que a Alemanha não teve todos os problemas que nós tivemos com o voto impresso. Não teve voto de cabresto, não teve coronelismo. Nós encontramos uma solução original e eficiente para um problema que nós tínhamos. Portanto, há um certo complexo de vira-lata de a gente querer imitar os outros para querer ficar pior. Nós somos capazes de fazermos coisas boas — afirmou.
— O (ex) presidente (Donald) Trump, no país do voto impresso (os Estados Unidos), até hoje, ele e o grupo extremista que o apoia dizem que as eleições foram fraudadas, com o voto impresso — acrescentou.
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Discussão no Congresso
Bandeira do presidente Jair Bolsonaro, que alega fraudes na urna eletrônica, mas sem apresentar provas, o tema é discutido em uma comissão especial na Câmara. Na segunda-feira (28), um relatório foi apresentado pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), que leu parecer pela adoção do voto impresso e pela apuração dos resultados das eleições feita pelo papel.
A ideia de Barros é acoplar uma segunda urna às já existentes para guardar uma impressão — em papel — do voto registrado na urna eletrônica. Esse registro poderá ser visto pelo eleitor, mas ele não terá acesso.
O deputado também prevê que os votos impressos, depois da apuração, serão guardados nas sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) até a diplomação dos eleitos, por pouco mais de dois meses.
O parecer de Barros só deverá ser votado nas próximas sessões e tem como base uma proposta de emenda à Constituição (PEC) da deputada Bia Kicis (PSL-SP), também bolsonarista. Após essa fase, precisa ainda ser aprovada em dois turnos no plenário da Câmara e depois no Senado.
Para valer em 2022, precisa concluir todas as etapas até no máximo um ano antes das eleições, ou seja, outubro deste ano. No último fim de semana, 11 partidos se posicionaram contrários ao voto impresso.