Todo o barulho em torno da proposta de emenda constitucional que prevê a adoção do voto impresso não será suficiente para que em 2022 os cerca de 150 milhões de eleitores brasileiros tenham uma experiência diferente da que têm, a cada dois anos, desde 1996. Ainda que a emenda venha a ser aprovada em dois turnos na Câmara e no Senado, não há tempo para que se cumpram todos os trâmites para implantar o voto impresso em todas as seções.
— Não há tempo hábil para entregar 100% com um mínimo de segurança. Seria uma delegação perversa para a Justiça Eleitoral. Se vier o impresso, que seja em 5% ou 10% das urnas, no máximo — opina Daniel Wobeto, secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal Regional Eleitoral.
Assim como o voto eletrônico foi implantado progressivamente, o impresso — se passar no Congresso — também poderia ser adotado como projeto-piloto, o que certamente confirmaria que é desnecessário, caro e incompatível com um mundo cada vez mais digital.
Não basta aprovar a emenda constitucional. É preciso projetar os equipamentos, testar, abrir concorrência, comprar e treinar os servidores da Justiça Eleitoral no Brasil inteiro. E as regras da eleição devem estar definidas um ano antes do pleito, o que significa pouco mais de quatro meses.
Em 25 anos, como mostra a reportagem da jornalista Juliana Bublitz, o sistema eletrônico se mostrou confiável, mas nos últimos sete passou a ser atacado por adeptos de teorias conspiratórias que ignoram a complexidade e o custo da mudança. O presidente Jair Bolsonaro, que conquistou uma sequência de mandatos de deputado federal e elegeu os três filhos por esse sistema, passou a fazer cabo de guerra em 2018, mesmo tendo vencido a mais importante eleição.
Com os R$ 3 bilhões estimados para colocar em pé um sistema com impressoras acopladas e uma urna física que receberia os votos impressos o governo poderia investir em saúde, educação e infraestrutura. A urna, convém lembrar, não é ligada à internet. Em cada seção eleitoral, se emite ao final da votação um boletim com os resultados que depois serão transmitidos para o sistema de totalização. Se alguém suspeitar que o sistema foi hackeado, sempre será possível redigitar boletim por boletim para conferir.
Aliás
Além da apuração demorada, o sistema anterior ao voto eletrônico era suscetível às fraudes e aos equívocos das juntas apuradoras. Mudar tudo 25 anos depois não deixa de ser um surrealismo à brasileira.