Parlamentar que atraiu a atenção do país nos últimos dias, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) deve depor à CPI da Covid nesta sexta-feira (25), a partir das 14h. O irmão dele, Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, também será ouvido nesta tarde pela comissão do Senado.
O deputado afirma que alertou o presidente Jair Bolsonaro sobre indícios de irregularidades na aquisição da vacina indiana Covaxin. A negociação está sob suspeita em razão do valor unitário dos imunizantes, considerado elevado, e da participação de uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos.
Eleito pelo Distrito Federal com cerca de 65 mil votos nas eleições de 2018, Luis Miranda vivia nos Estado Unidos quando se candidatou. De lá, mantinha um canal no YouTube em que dava dicas de como empreender e obter o visto para morar no país.
Apesar de não ser do mesmo partido de Bolsonaro, Miranda mantinha discurso parecido com o do presidente e falava a favor dele. Nos últimos dias, no entanto, ele e o irmão vêm fazendo denúncias contra o chefe do Executivo, alegando que Bolsonaro tinha conhecimento sobre possíveis irregularidades na compra da Covaxin.
A ordem para a aquisição do imunizante teria partido pessoalmente de Bolsonaro, e a negociação durou cerca de três meses, prazo bem mais curto que o de outros acordos — com a Pfizer, por exemplo, foram 11 meses. O preço por dose ficou em US$ 15, o equivalente a R$ 80,70 na cotação da época, a mais cara entre as seis vacinas compradas até agora.
Irmão do deputado e chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde, Luís Ricardo Fernandes Miranda disse que percebeu "pressões anormais" para o fechamento do contrato de aquisição da vacina. Ele afirma ter alertado, junto do irmão, o presidente Bolsonaro sobre as supostas irregularidades em março deste ano, em um encontro no Palácio da Alvorada, mas não teriam tido retorno.
Agora, a CPI quer esclarecer por que o governo priorizou as doses indianas. O Planalto nega qualquer irregularidade na negociação.
Acusações contra o deputado
Essa não é a primeira vez que o deputado se envolve em casos de repercussão. Em 2019, uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, ouviu 25 pessoas que diziam ter sido lesadas em promessas de investimento feitas por Miranda que não foram cumpridas.
Segundo os relatos, o político, quando ainda vivia nos EUA, oferecia investimentos ao seguidores, que poderiam se tornar sócios dele em supostos negócios no país. Os lucros seriam divididos, segundo Miranda, o que não aconteceu, conforme os entrevistados.
Um deles disse que teve um prejuízo de aproximadamente R$ 150 mil. O deputado nega as acusações.
Investigação e pedido de proteção policial
Em pronunciamento na quarta-feira (23), o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, afirmou que Bolsonaro mandou a Polícia Federal investigar as duas testemunhas.
— Deputado Luis Miranda, Deus está vendo. Mas você não vai se entender com Deus só não. Vai se entender com a gente também — declarou Onyx.
Já na quinta (24), Miranda protocolou um pedido de prisão por coação contra Onyx, alegando ter sido vítima de ameaças. No mesmo dia, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que irá solicitar proteção policial para os dois irmãos.