Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (24), o epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal afirmou que o modelo de bandeiras, adotado pelo governo do Rio Grande do Sul no combate à pandemia entre maio de 2020 e maio deste ano, foi "politizado" e "degringolou".
A fala do especialista se deu após um questionamento do senador Eduardo Girão (Podemos – CE), que fez uma comparação entre o número de mortes por coronavírus já registradas no RS e o número de óbitos que o Brasil teria caso o modelo tivesse sido adotado em todos os Estados. Segundo o parlamentar, seriam 594 mil mortes, e não 505 mil.
— Diante dessa triste realidade, podemos considerar que essa política das bandeiras foi um desastre? — perguntou Girão.
Hallal, então, respondeu que foi crítico do modelo desde o primeiro momento, mas que, de março a setembro do ano passado, o resultado gaúcho era "extremamente positivo", sendo o RS "um dos melhores Estados no enfrentamento da pandemia". Depois disso, na opinião do epidemiologista, a situação mudou, "especialmente a partir das eleições municipais do ano passado".
— A partir de outubro, especialmente com o envolvimento forte politizado, acirrado com as eleições, o Rio Grande do Sul degringolou e de lá pra cá não tem um desempenho bom. Ao contrário, hoje o Rio Grande do Sul está entre os 10 Estados com pior desempenho em termos de mortalidade por um milhão — afirmou.
Hallal também disse que não conversou com o governador Eduardo Leite em nenhuma oportunidade desde março de 2020, nem deu qualquer tipo de recomendação a ele sobre como deveria proceder na condução da pandemia no Estado.
— O governador foi eleito pra isso. Embora tenhamos uma relação cordial por sermos da mesma cidade, nunca discuti ou apresentei pra ele qualquer sugestão, exceto nas minhas manifestações públicas — esclareceu.
O que diz o governo do RS
"Reconhecido nacional e internacionalmente, o modelo de Distanciamento Controlado foi pioneiro ao apostar no conhecimento científico e no monitoramento constante de dados para enfrentar a pandemia. Ele salvou vidas. Em 2020, o Rio Grande do Sul foi o Estado com o menor excesso de óbitos do Brasil, o que comprovou a eficácia do modelo.
Em 2021, com o agravamento da pandemia, por conta da circulação de novas variantes mais agressivas do vírus, o Distanciamento Controlado acabou perdendo sensibilidade para deter a nova realidade da pandemia. Foi substituído pelo Sistema 3As de Monitoramento, mais ágil e colaborativo, que estabeleceu um novo regime de parceria com as prefeituras. A opção mais recente por uma gestão compartilhada com as regiões e os municípios foi necessária também para intensificar a fiscalização do cumprimento dos protocolos, que é local.
As decisões do governo do Estado também procuraram contemplar um cenário de esgotamento da economia, com as empresas sofrendo com um período longo de restrições, além de um contexto político, com os prefeitos eleitos fazendo uma argumentação legítima pela abertura, a fim de salvar empregos, o que também salva vidas.
Como ferramenta de gestão pública, todos os modelos de contenção da pandemia têm natureza técnica e política, pois ao mesmo tempo em que precisam ter fundamento sanitário e epidemiológico, também devem ser capazes de dialogar com a sociedade e resultar em comportamento por parte da população."