Um dos principais símbolos arquitetônicos do Rio Grande do Sul e sede do governo, o Palácio Piratini completa na próxima segunda-feira (17) 100 anos. O local que começou a ser construído em 1896, mas teve a obra paralisada por 13 anos por conta da morte de Júlio de Castilhos, tomou uma nova forma em 1909. O atual prédio de estilo neoclássico, inspirado na cultura francesa, foi projetado pelo arquiteto Maurice Grass e ocupado pela primeira vez em 1921 pelo então presidente da província, Borges de Medeiros. Atualmente, o governador Eduardo Leite mora na ala residencial, o que não acontecia desde 2003.
No saguão principal, uma escadaria de mármore francês leva ao gabinete do governador e também aos salões Negrinho do Pastoreio e Alberto Pasqualini. No andar de cima, obras como o mural “A formulação do RS” pintada pelo artista italiano Aldo Locatelli, entre 1951 e 1955, importantes para a história gaúcha estão expostas. Além disto, dois veículos históricos, o Ford de 1919, utilizado somente por Borges de Medeiros, e um Stutz de 1928, que transportou figuras como João Goulart, Castelo Branco e Getúlio Vargas, estão expostos no Palácio.
Em comemoração à data, GZH convidou ex-governadores para contarem histórias e momentos vividos no local. O programa SuperSábado, da Rádio Gaúcha, também terá temática especial e será apresentado diretamente do Palácio Piratini neste sábado (15), a partir das 08h10.
Lembranças dos ex-governadores
Jair Soares: filhas criadas no Palácio
Governador do Estado de 1983 a 1987, Jair Soares, afirma conhecer o Piratini como a palma da mão, desde antes de ser governador, e inclusive diz ter até intimidade com o local. Jair Soares era chefe de gabinete na Assembleia Legislativa, e já ingressava no Palácio antes de ser eleito. Para ele, é a consagração de qualquer um chegar a assumir o Piratini como gestor do Estado e como morador. Jair Soares recorda que o melhor de tudo era morar no Palácio - o que fez nos quatro anos de governo - e poder cuidar de tudo o que se passava pelo Estado. Duas filhas de Jair Soares foram criadas no Piratini na época, e o ex-governador lembra de ensiná-las a enfrentar até mesmo bullying na escola pelo fato de morarem no endereço mais importante do Rio Grande do Sul.
Pedro Simon: deixou o palácio sem levar seus pertences
Governador do Rio Grande do Sul entre 1987 a 1990, Pedro Simon decidiu seguir o mesmo que Borges de Medeiros e deixou o Palácio Piratini sem levar nenhum pertence.
A decisão causou estranhamento na família, mas foi compreendida quando explicou que Medeiros havia dito que ninguém viu os pertences entrarem, mas todos iriam ver sair.
Alceu Collares: eventos culturais e as tradições gaúchas
Entre 1991 e 1994, Alceu Collares o então atual governador do Rio Grande do Sul viveu dentro do Palácio Piratini uns dos momentos mais importantes de sua vida política. Segundo ele, o marco foi a abertura do palácio para a realização de eventos culturais, incluindo o Baile Fandango Farroupilha, foi uma maneira de homenagear as tradições gaúchas.
– O menino pobre de Bagé, filho de mãe índia e pai negro, ambos analfabetos, quem diria – relembra.
Olívio Dutra: palácio como palco de acontecimentos marcantes
Governador do Estado entre 1999 a 2003, Olívio Dutra considera a sede do governo o prédio mais símbolo entre todos próximos da Praça da Matriz. O local, que para ele, é considerado um museu, reflete o espírito republicado, foi sua moradia e palco de acontecimentos marcantes.
Germano Rigotto: emoção nas cerimônias
Governador do Estado entre 2003 e 2006, Germano Rigotto relata a emoção das cerimônias vividas dentro do Palácio Piratini. A Cerimônia de Posse, quando assumiu o governo, a da transmissão foram momentos marcantes para sua vida. A música Querência Amada, tocada pela Orquestra Sinfônica embalou o momento de despedida do local, que fica marcada até hoje.
Yeda Crusius: a surpresa francesa e a arquitetura
Governadora do Estado entre 2007 e 2010 - e primeira governadora mulher do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, relembrou o dia da abertura do ano da França no Brasil, em 2009. Yeda, recorda que a arquitetura do prédio foi inspirada no Palácio da França, o que inspirou os presentes a cantarem três hinos naquele dia: O Hino Nacional Brasileiro, O Hino Rio-Grandense e La Marseillaise, hino da nação Francesa. Isso deixou os franceses convidados com uma expressão atônita, e orgulhou Yeda.
Tarso Genro: diálogo com respeito a manifestos populares
Tarso Genro, esteve à frente do Estado de 2011 a 2014, e acredita que cada governador que passou pelo Palácio Piratini deve guardar momentos, refletindo a sua história e visão de mundo.
Para ele, um dos momentos mais fortes do seu mandato foi em junho de 2013 quando recebeu manifestantes do movimento popular na sede do governo para discutir suas demandas. O orgulho de Tarso Genro foi ter debatido as demandas dos líderes do movimento com respeito e consideração, levando o diálogo que faz jus a história do Piratini.
José Ivo Sartori: convivência e eventos tradicionais
Governador do Rio Grande do Sul entre 2014 e 2018, José Ivo Sartori lembra com carinho dos espaços do Palácio Piratini como locais de convivência. Para Sartori, o carinho é especial nas lembranças de eventos tradicionais no Galpão Crioulo, onde foram valorizadas as festas do interior, que movimentam muito o turismo e os negócios das regiões.
José Ivo Sartori também recorda com orgulho do Salão Negrinho do Pastoreio lotado com moradores dos bairros de Porto Alegre, o que para ele traduziu o "governar de dentro para fora" do Piratini.
*O ex-governador do Estado entre 1995 e 1998, Antônio Britto, não atendeu as ligações de GauchaZH para prestar o seu depoimento.