O ex-ministro da Saúde Nelson Teich expôs na CPI da Covid a cronologia de sua saída da pasta, em maio de 2020, quando foi pressionado a ampliar as recomendações do uso da cloroquina para pacientes da covid-19. Na semana em que pediu demissão, relembrou, o presidente Jair Bolsonaro falou a apoiadores que o ministro da Saúde deveria estar afinado a ele, que defende o uso do medicamento sem eficácia comprovada.
Um dia antes de deixar o cargo, houve uma reunião entre Bolsonaro e empresários na qual o chefe do Executivo afirmou que a aplicação da cloroquina seria expandida. À noite, foi a vez de o presidente falar, em uma live nas redes sociais, sobre a expansão do uso do medicamento. Foi a gota d'água para Teich.
— Naquela semana teve uma fala do presidente ali na saída da Alvorada onde ele fala que o ministro tem que estar afinado, e cita o meu nome especificamente. Na véspera, pelo que eu vi, tem uma reunião com empresários onde ele fala que o medicamento vai ser expandido. À noite, em uma live, onde ele coloca que espera que no dia seguinte vá acontecer isso, que vai ter uma expansão do uso, e aí no dia seguinte eu peço a minha exoneração — explicou Teich.
No depoimento, o ex-ministro repetiu que resolveu deixar a pasta onde atuou por quase um mês porque percebeu que não teria autonomia necessária para tocar as ações do ministério.
— Aquela sequência mostrou que eu não teria autonomia para conduzir, e ali, não tinha sentido eu continuar. E até em respeito ao presidente, pela posição dele, ele que me colocou lá, ele que foi eleito pela sociedade. Então até numa posição natural, já que não havia uma autonomia, e isso era um pré-requisito básico pra eu continuar, na minha opinião, naquele momento, o certo seria em sair — disse o ex-ministro.