Um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro na CPI da Covid e único gaúcho a participar da comissão, ainda que na condição de suplente, o senador Luis Carlos Heinze (PP) usou a maior parte do seu tempo durante o depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta para fazer uma defesa veemente do chamado kit covid. Utilizado no chamado "tratamento precoce", o kit inclui hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, zinco e outras drogas.
Heinze citou cidades que teriam obtido sucesso no tratamento de pessoas com coronavírus, como Rancho Queimado (SC), Porto Seguro (BA) e Ilhabela (SP), ignorando que dezenas de outras que não usam os medicamentos têm números iguais ou até melhores, na proporção da população.
O senador citou a própria família como exemplo de que o kit covid funciona. Disse que ele, a esposa, Sandra, a filha, o genro e o neto se contaminaram e fizeram o “tratamento precoce”. Esqueceu de dizer que o caso dele e da esposa se agravou e o casal foi transferido de São Borja para a São Paulo. Os dois foram internados no Hospital Vila Nova Star. Com febre e dificuldade para respirar, Sandra precisou de Ventilação Não Invasiva e uso de cateter nasal.
Em resposta ao senador, Mandetta repetiu que não existe tratamento preventivo e que nenhuma pesquisa científica comprovou a eficácia da cloroquina no tratamento de pessoas com covid. Lembrou que 85% dos contaminados não desenvolvem sintomas ou têm a forma leve da doença, que se cura sem qualquer medicação “ou até com água”.
Disse que, como Heinze citou a família como exemplo, queria citar o que ocorreu na dele, onde vive com a esposa, o filho e a sogra:
— Eu sou médico, minha mulher é médica, trabalha com pacientes covid, meu filho é residente, também trabalha com covid, minha sogra tem 87 anos. Todos tomamos precauções, adotamos os protocolos de distanciamento, uso de máscara e álcool gel e ninguém se contaminou.
Pouco antes, em tom irônico, Mandetta o gado como exemplo de que a vacina funciona. Lembrou que ele e Heinze são produtores rurais e que sabem que a febre aftosa foi erradicada graças à vacina. Em uma alegoria sobre a disputa cloroquina versus vacina, lembrou que, em Mato Grosso do Sul, muitos fazendeiros desprezaram a vacina, preferindo passar creolina nos animais e jogar cal nas mangueiras e acabaram sendo obrigados a sacrificar milhares de cabeças por contaminação pela aftosa.
Heinze também elogiou a Prevent Sênior, um plano de saúde voltado para o público idoso, que no início da pandemia teve altos índices de mortalidade e, depois, adotou o kit covid no seu protocolo de atendimento. Disse que por motivos políticos e ideológicos “estão assassinando a reputação” de médicos que receitam cloroquina, ivermectina e outras drogas do kit covid.
Mandetta insistiu que não há base científica para prescrever cloroquina, nem pesquisas confiáveis:
— O que diferencia o achismo da ciência? A ciência se baseia em pesquisas que cumprem todas as etapas do protocolo, são supervisionadas e revisadas por seus pares. O achismo é “o meu protocolo, a minha opinião, eu acho que é assim”. O achismo é a coisa mais próxima do caos.
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