Em depoimento na CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse que deixou o cargo porque não tinha autonomia e ressaltou divergências com o presidente Jair Bolsonaro em relação à cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19. Ele comandou a pasta entre 17 de abril e 15 de maio de 2020.
A sessão da comissão foi encerrada pouco depois das 16h30min, com a abertura da ordem do dia no plenário do Senado. Nesta quinta-feira (6), está previsto o depoimento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
— (Deixei o ministério) após constatação de que não teria a autonomia e liderança que imaginava indispensável para o exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da covid-19 — ressaltou.
Teich disse ainda não sabia que o Exército estava produzindo cloroquina e ressaltou que nunca foi consultado sobre a distribuição do medicamento.
— Se tivesse sabido (da distribuição de cloroquina), não deixaria acontecer — destacou.
Na abertura dos trabalhos, os senadores fizeram um minuto de silêncio em homenagem às mais de 410 mil pessoas mortas em decorrência da covid-19, com destaque para o ator e humorista Paulo Gustavo, que morreu na noite de terça-feira (4) por complicações da doença.
O depoimento de Teich estava previsto para ocorrer nesta terça-feira (4), mas teve de ser adiada devido ao grande número de perguntas dirigidas ao também ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, primeiro a ser ouvido pela CPI.
"Clima tenso de polarização"
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich lembrou do clima "tenso de politização" que existia, segundo ele, quando assumiu a titularidade da pasta em abril do ano passado, nos primeiros meses da pandemia do coronavírus no Brasil.
— Quando eu entrei, existia um clima de politização e disputa muito grande, era um clima muito tenso. Então eu via que as coisas que eu falava, elas eram mais usadas do que ouvidas. Então existiu ali um primeiro momento em que a ideia era só tentar diminuir um pouco a tensão. Esse momento é o momento em que eu tomo mais um pouco do conhecimento do dia a dia do ministério — disse Teich durante depoimento à CPI da Covid.
— Inclusive, eu achava que aquelas coletivas (da Saúde) deveriam ser um pouco mais técnicas no sentido não só de passar número, mas tentar passar alguma comunicação para sociedade — disse.
Economia x saúde
Ao falar sobre o dilema levantado pelo presidente, sobre a preservação do ambiente econômico e o combate à covid, Teich disse que o problema prático foi que a economia foi tratada como "dinheiro e empresas, e a saúde, como vidas, sofrimento e morte. Mas na verdade, tudo é gente".
— Quando você fala da economia, você não está falando de empresa, de emprego, de dinheiro, você está falando de gente — afirmou Teich.
Depoimento de Pazuello é adiado por 15 dias
Os esclarecimentos do ex-ministro Eduardo Pazuello, que estava agendado para a quarta-feira, foi adiado por 15 dias a pedido do general. Pazuello alegou risco de contaminação por ter se encontrado recentemente com pessoas com covid-19. Ele é o mais recente ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro e foi sucedido por Queiroga.
Pazuello informou que não iria depor logo no início da sessão da CPI de terça-feira, por volta das 10h. Apenas no meio da tarde, o presidente do comitê , senador Omar Aziz (PSD-AM), leu comunicado recebido do Comando do Exército sobre o contato recente de Pazuello com duas pessoas testadas positivas para covid-19. O presidente da CPI negou que o depoimento pudesse ser feito remotamente e decidiu reagendar o depoimento de Pazuello para 19 de maio, daqui a 15 dias.