O governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), depôs nesta quarta-feira (7) pela primeira vez ao Tribunal Misto do impeachment, após o processo ficar paralisado por meses. No depoimento, o ex-juiz chorou, alegou inocência e disse que "não deixou a magistratura para ser ladrão".
— Estou na vida pública há 35 anos. Não deixei a magistratura para ser ladrão. É muito cruel o que estão fazendo com a minha família, com a minha esposa. Decidi deixar a magistratura por um ideal, para ajudar o povo do Rio de Janeiro a ter uma mudança, um futuro melhor — disse.
Segundo Witzel, houve "dificuldade" de entender do que ele estava sendo acusado ao longo do impeachment. O ex-juiz também criticou o precedente que pode ser aberto por uma cassação de mandato de governador e pediu que deixem o povo julgá-lo, dando a entender que concorrerá à reeleição se voltar ao cargo.
— Deixa o povo me julgar. Em 2022 vamos ter eleição. Não estou vendo nas ruas um movimento 'fora Witzel'. Muito pelo contrário: não tenho vergonha de ir à feira, ao shopping.
O alvo principal das críticas do governador foi o ex-secretário de Saúde Edmar Santos, considerado por ele um "mentiroso". Em delação premiada, Santos relatou o esquema de desvio de recursos públicos que fundamentou denúncia e o pedido de afastamento de Witzel.
— Professor da UERJ, doutor Nada indicava que o doutor Edmar tinha no colchão da casa dele R$ 8 milhões.
Atuando na própria defesa, o governador afastado interrogou Santos antes de depor. Na condição de testemunha, Santos disse que alertou ao Witzel sobre o risco que correria ao assinar a requalificação da organização social Unir Saúde - o principal ponto do processo de impeachment.
— O senhor me pediu para requalificar a Unir, e eu disse ao senhor que seria equivocado, que seria batom na sua cueca — disse. Segundo o médico, Witzel lhe avisou que a requalificaria "de canetada".
Além do processo de impeachment, Witzel ainda enfrenta duas denúncias criminais do Ministério Público Federal no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Atualmente, ele está afastado do cargo temporariamente até o fim deste ano por decisão daquela Corte, tomada em 28 de agosto de 2020. O STJ o transformou em réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito criminal.