Horas depois de o presidente Jair Bolsonaro ter dito que acabou com a Lava-Jato porque "não tem mais corrupção no governo", o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro usou as redes sociais para rebater a afirmação. Sem citar o presidente, o ex-juiz da Lava-Jato disse que as tentativas de encerrar a operação "representam a volta da corrupção".
"É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?", comentou no Twitter.
Um dos principais nomes da Lava-Jato e responsável pelas decisões da operação na 13ª Vara Federal de Curitiba, Moro deixou a magistratura para entrar no governo Bolsonaro em 2019. Era considerado um dos favoritos à vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) de Celso de Mello antes de romper com presidente. Moro pediu demissão em abril, quando o chefe do Executivo exonerou o diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo. Ao sair, acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF.
A declaração de Bolsonaro ocorreu durante cerimônia de lançamento do programa Voo Simples. A afirmação foi uma resposta às críticas que vem sofrendo pela indicação do desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) Kassio Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo os apoiadores de Bolsonaro, o presidente estaria recuando no compromisso de indicar alguém que combata à corrupção e fortaleça a operação Lava-Jato.
Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli chancelaram o nome do desembargador Kassio Marques para a vaga ao STF. Bolsonaro selou a indicação após uma reunião com os dois integrantes da Corte. O gesto motivou uma reação negativa de apoiadores e aliados tradicionais do presidente. O grupo Vem Pra Rua, por exemplo, marcou um protesto para o dia 18.
A indicação de Kassio, costurada com o apoio do centrão e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), vem sendo contestada por diversos grupos de apoio ao presidente. Evangélicos, ideológicos militares e lava-jatistas externaram nas redes sociais e nos bastidores do governo a decepção com o escolhido. Como o Estadão mostrou, informações do currículo do desembargador são inconsistentes.
Nesta tarde, Bolsonaro voltou a sair em defesa de Marques.
— Quando eu indico qualquer pessoa para qualquer local, eu sei que é uma boa pessoa tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe da grande mídia — disse Bolsonaro.